Título: Investimento fixo caiu 2,2%, aponta Ipea
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2005, Brasil, p. A3
O investimento fixo sofreu uma desaceleração forte no primeiro trimestre do ano, conforme cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apresentados na publicação "Conjuntura Ipea". A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), equação que mede o investimento com base no desempenho da construção civil e no comportamento da indústria de bens de capital, teve queda de 2,2% ante o último trimestre de 2004 e expansão de 3,8% na comparação com o mesmo período do ano passado, bem abaixo dos 7,3% projetados pela instituição. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), a taxa de investimento bateu em 18,9%, acima dos 18,1% do primeiro trimestre de 2004, mas aquém dos 19,1% do último trimestre de 2004. Na média, a taxa de investimento do ano passado ficou em 18,7%, bem inferior aos 25% que o país precisa para continuar crescendo 5% ao ano. Mérida Herasme Medina, economista do Ipea responsável pelo cálculo da FBCF, considerou "muito ruim" o comportamento do investimento fixo nos três primeiros meses do ano. Ela atribuiu o fato à alta contínua do juro básico desde setembro. "O juro está travando investimento", alertou. No trimestre, segundo as contas do Ipea, os principais componentes da FBCF - construção civil e bens de capital - tiveram comportamentos "decepcionantes", conforme definição da própria instituição. A construção civil, com maior peso (quase 70%) cresceu 0,7% ante o primeiro trimestre de 2004, enquanto o consumo aparente de máquinas e equipamentos caiu 0,4% na mesma base de comparação. Esses desempenhos, na análise de Mérida, devem ser qualificados. Na construção civil a desaceleração na taxa de crescimento anual do setor está associada à redução da demanda por aço pelas construtoras, que acumularam estoques do insumo no fim do ano passado, por temerem uma alta nos preços do insumo. "Um indicador positivo da construção, que aponta para uma performance mais favorável, é a produção de cimento e clínquer, que segundo a pesquisa de indústria do IBGE acumula expansão de 8,1% até março", ressaltou Mérida. A economista também chama a atenção para a produção de bens de capital para construção, que acumula 33,2% de alta até março ante igual período de 2004. A produção de máquinas e equipamentos (com peso de mais de 30% na FBCF), cresceu 5,6%, mas aparentemente está mais direcionada para o mercado externo do que para o interno. Segundo os cálculos de Mérida, a absorção da produção de máquinas e equipamentos no país encolheu 9% no primeiro trimestre, enquanto as exportações cresceram 42,7% e as importações, 25%, ante igual período do ano passado. A economista vê os indicadores de máquinas e equipamentos com mais otimismo, apesar da forte retração de 29,9% da produção destinada ao setor agrícola por conta da quebra de safra. "Este fenômeno para mim é localizado", explicitou Mérida. A produção de máquinas para energia elétrica cresceu 13,7% no ano até março, para equipamentos de transporte, 11,6% e para fins industriais, 4,9%, sendo 4,6% para industriais seriados e 6,9% para industriais sob encomenda. "Acho que o resultado do investimento no trimestre foi ruim, mas não dá ainda para bater o martelo para o ano", ponderou. A economista adiantou que as projeções de indicadores macroeconômicos estão sendo revisadas para baixo pelo Ipea, mas a instituição aguarda os números do PIB do primeiro trimestre (que saem no final do mês) para divulgar novos números para a economia. O Ipea, contudo, já alterou sua estimativa de crescimento para o PIB do primeiro trimestre: de 0,8% para 0,5% na comparação com o último trimestre do ano na taxa dessazonalizada. A carta "Conjuntura Ipea" analisou os indicadores antecedentes de abril e destacou a queda de 1,2% na produção de veículos na comparação com março. A expedição de papel ondulado cresceu 0,1% ante março e 5,3% sobre o mesmo mês de 2004. O Ipea não estima a produção da indústria de abril, mas num cenário de manutenção de uma tendência de estabilidade, captada nos dados de março, prevê que a indústria poderia crescer 2,8% em 2005. Em dezembro passado, a previsão era de uma alta de 5,1% para a indústria neste ano.