Título: Para analistas, desempenho do mês não garante retomada da economia
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2005, Brasil, p. A3

Ao lado de outros indicadores do mês de abril, como venda de papelão ondulado e fluxo nos pedágios, a criação de quase 80 mil vagas na indústria de transformação, segundo os dados do governo, pode indicar uma recuperação da economia, especialmente da produção industrial no quarto mês do ano. Mas, segundo analistas, há dúvidas de se esse movimento irá se sustentar nos próximos meses. De acordo com cálculos de Bráulio Borges, da LCA Consultores, que já descontam os efeitos sazonais, a expedição de papel ondulado avançou 2% entre março e abril. O dado é considerado forte pelo economista. Apesar de ser um percentual abaixo dos 2,8% de março, está bem acima do 0,2% de fevereiro e da queda de quase 6% apurada em janeiro. Ao mesmo tempo, o fluxo nos pedágios das rodovias, medido pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), foi 1,2% maior em abril, também na série ajustada sazonalmente. Entre março e fevereiro, o indicador havia recuado 1,1%. Borges diz que o resultado é positivo e ressalta que ele não diz respeito somente a indústria, pois também reflete o desempenho da agropecuária. "Os números do Caged só reforçam a expectativa de que a indústria voltará a crescer em abril, após a desaceleração dos últimos meses", acredita o economista. Segundo a LCA, o crescimento do emprego em abril na comparação com o mês anterior foi de 0,66%, em termos dessazonalizados. É a maior variação desde setembro de 2004 e acima da média verificada entre novembro e março deste ano, ao redor de 0,3% e 0,4% ao mês. Esses resultados levaram a consultoria a revisar suas previsões sobre o comportamento da indústria nacional em abril. Antes, Borges esperava uma variação na margem negativa em 0,4%. "Agora, ela deve ficar no terreno positivo. Com exceção da Sondagem Conjuntural da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que mostrou maior pessimismo do empresários, os demais indicadores foram bem", afirma. Johan Soza, da Rosenberg & Associados, também está otimista e espera avanço de 0,5% na produção. No entanto, ele enfatiza que um crescimento em abril pode não significar uma retomada da economia. Com os juros altos e o câmbio ainda desfavorável às exportações, Soza duvida da possibilidade de aceleração econômica. "A nossa previsão para o PIB no ano, em 3%, contará com maior contribuição do primeiro semestre do ano, pois ainda apostamos em acomodação do crescimento", argumenta. Para Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ainda é prematuro dizer que a indústria retomou a trajetória ascendente. "Após patinar tanto nos últimos seis meses, pode ocorrer alguma recuperação ame abril, mas é difícil falar em retomada", salienta.