Título: Crescem sinais do câmbio fraco na balança de maio
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2005, Brasil, p. A4

Os importadores reagiram mais rapidamente que os exportadores ao efeito da persistente valorização do real em relação ao dólar: na segunda semana de maio, pela terceira semana consecutiva, as importações ultrapassaram US$ 290 milhões diários, em média. Com os resultados da semana passada, as importações de maio estão, em média, 31,4% acima da média do mesmo mês do ano passado, e 13,5% maiores do que a média de abril. A média de importações na segunda semana de maio, de US$ 310 milhões, é a mais alta do ano. As exportações permanecem vigorosas, em US$ 441,5 milhões nas duas primeiras semanas de maio, quase 17% além da média de maio de 2004, mas 4% abaixo da média de abril. A diferença entre exportações e importações chegou a US$ 665 milhões na segunda semana de maio, o que elevou o saldo do comércio exterior brasileiro, para US$ 13,6 bilhões neste ano.

"Já é impacto da taxa de câmbio", comenta o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro. "A valorização do câmbio traz efeitos para a exportação no longo prazo, mas os importadores não esperam tanto tempo para começar a definir compras, aproveitando o dólar baixo", diz ele. Até abril, as importações de bens de consumo, como automóveis, e de máquinas e equipamentos para a indústria, os chamados bens de capital, vinham puxando as importações, como nota o economista Fernando Ribeiro, da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Em maio, os dados preliminares indicam que cresceram principalmente as compras, no exterior, de matéria-prima para a indústria, como aço, e insumos, como fertilizantes. "Até agora, o crescimento das importações era muito forte, mas não nos bens intermediários", comentou Ribeiro. "A maior compra de produtos como plásticos e borracha pode indicar alguma recuperação das atividades da indústria em maio", acrescenta. Em comparação com maio de 2004, cresceram 69,7% os gastos com importação de produtos siderúrgicos. Isso demonstra que, com o alto nível de ocupação da capacidade das siderúrgicas brasileiras e a redução de tarifas de importação determinada pelo governo, os consumidores de aço estão se voltando para fornecedores externos. Entre os principais produtos importados, as compras de borrachas e derivados aumentaram 69,5%, e as de automóveis e partes, 56,6%. As importações de cobre e derivados aumentaram 75,3%. As importações de equipamentos mecânicos e de equipamentos elétricos e eletrônicos cresceram bem menos, quase 35% e 16% respectivamente. "Se o que há é aumento nas importações de bens de capital, será benéfico, pois indica aumento de investimentos; mas se o que está havendo é substituição de insumos nacionais por importados isso é ruim", avalia Castro. Ele comenta, porém, que a manutenção das taxas de juros nos níveis atuais não deixa espaço "técnico" para que o dólar volte a se valorizar, o que indica uma tendência de aumento nas compras externas. A manutenção, em níveis altos, de preços de commodities, como ferro e soja, tem garantido o bom resultado na balança comercial, avalia o executivo da AEB. "Essas importações em alta têm muito a ver com a taxa de câmbio e com a manutenção da demanda interna", diz Ribeiro, que, na semana que vem, deverá divulgar a análise detalhada da Funcex sobre os dados de abril. A proporção das importações em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), próxima a 10%, ainda está abaixo dos níveis registrados entre 1997 e 1998, o que faz com que a recuperação das compras externas reaja mais rapidamente ao câmbio do que as exportações, diz ele. O crescimento das exportações ainda é bastante forte, mas tende a desacelerar-se no segundo semestre, com o fim do efeito positivo da safra agrícola e o vencimento de contratos de exportações, prevêem Augusto de Castro e Ribeiro. Nas duas semanas de maio, o aumento de 21% nas vendas de manufaturados se deveu, principalmente, às exportações de tubos de ferro ou aço, gasolina, açúcar refinado, fio máquina e celulares.