Título: Ranking mostra desigualdade entre sexos no país
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2005, Brasil, p. A4
O Brasil amargou a 51ª posição em um ranking que mede a desigualdade social entre homens e mulheres. O resultado foi inferior ao de diversos países da América Latina, como Costa Rica, Colômbia, Peru, Chile e Venezuela. Os países com melhor desempenho são os nórdicos: Suécia, Noruega, Islândia, Dinamarca e Finlândia ocupam as cinco primeiras posições. O relatório, realizado pelo Fórum Econômico Mundial, analisou a situação da mulher em 58 países. Foram levados em conta cinco critérios para mensurar o fosso existente entre os sexos: participação econômica (igual remuneração por igual trabalho); oportunidade econômica (acesso ao mercado de trabalho não restrito a empregos de baixa remuneração e à ausência de preparo); presença em cargos de decisão, tanto no setor privado, quanto na política; acesso à educação e a serviços de saúde. O resultado brasileiro reflete uma realidade que se estende por quase toda a América Latina. A exceção é a Costa Rica, que ficou em 18º lugar, imediatamente atrás dos Estados Unidos. "Os maiores problemas desses lugares estão na educação e no acesso à saúde", comenta Augusto Lopez-Claros, economista-chefe e diretor do programa de competitividade global do Fórum. Ele ressalta que no Brasil, por exemplo, boa parte das crianças ainda está fora da escola, sendo que a presença feminina é menor do que a masculina. "Nesse quesito (disparidade entre meninos e meninas na escola), a posição do Brasil é 54ª", afirma. Os Estados Unidos, por sua vez, apesar de serem um país desenvolvido e uma potência mundial, ficaram apenas na 17ª colocação, atrás de muitos países europeus e também do Canadá. Para Lopez-Claros, os EUA enfrentam problemas particulares, principalmente na área de saúde e bem-estar da mulher. O economista ressalta que os benefícios da licença-maternidade são muito restritos. O período de descanso, por exemplo, "é o menor em todo o mundo, sendo que nos países mais bem colocados, esse tempo chega a um ano", diz. Outro dado que derruba a posição dos EUA é a alta taxa de gravidez na adolescência, entre meninas de 15 a 19 anos. Lopez-Claros ressalta que das 25 variáveis analisadas pelo estudo, "cerca de 80% delas são dados oficiais, ou seja, confiáveis". Com esse tipo de informação, os governos podem ter uma dimensão mais exata dos problemas sociais e focar melhor suas ações, acredita. "É preciso olhar onde estão as maiores fraquezas", diz. No caso do Brasil, o governo pode interferir na educação e mudar o cenário. "É uma questão de reestruturar o modo com que se gasta a receita do governo", explica. Na avaliação do economista, um exemplo a ser seguido é o dos países nórdicos que, nos últimos 20, 30 anos, foram capazes de reduzir sensivelmente as diferenças sociais entre homens e mulheres. "É um modelo que pode ser utilizado por qualquer outro país. Eles alocaram adequadamente os recursos do governo para para fortalecer a educação e os serviços de saúde para toda a população, com ênfase nas pessoas mais vulneráveis, como crianças e mulheres", esclarece.