Título: Produtor brasileiro quer barrar entrada de vinho barato
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2005, Brasil, p. A4

Os produtores brasileiros de vinho propuseram ontem que o setor privado argentino deixe de exportar ao Brasil vinhos de preço baixo em troca de medidas para proteger os fabricantes de todos os países do Mercosul da competição com produtores de fora do bloco. Os dois lados fizeram ontem uma reunião em Buenos Aires e devem assinar hoje um protocolo marcando o início das negociações entre os dois setores. O tom do documento deve ser conciliador, com um compromisso de trabalhar para assegurar o crescimento do setor. No protocolo não deve ficar definido um regime de autolimitação das exportações argentinas, mas os produtores brasileiros esperam conseguir um acordo nesse sentido no curto prazo. Segundo Hermes Zanetti, presidente da câmara que reúne os produtores de vinho brasileiros, a idéia é que os argentinos aceitem não exportar mais vinhos com preço inferior a US$ 15 por caixa de 12 garrafas de 750 ml. "Nós estamos em uma missão de construir uma parceria. Quando entra no Brasil um vinho argentino de preço baixo e qualidade ruim, isso acaba prejudicando a própria imagem do vinho argentino", disse Zanetti. O empresário afirmou que uma das propostas para privilegiar o vinho dos países do Mercosul na competição com os importados de preço baixo é instituir uma taxa de US$ 0,60 por garrafa importada de terceiros países. Com isso, o mercado de vinhos mais baratos ficaria praticamente fechado aos produtores de fora. Os fabricantes de calçado também fizeram uma reunião na capital argentina e devem prosseguir negociando hoje, paralelamente à reunião da comissão de monitoramento do comércio bilateral, chefiada pelo secretário de Indústria argentino, Miguel Peirano, e pelo secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Márcio Fortes. O lado argentino tenta impor ao Brasil uma cota para limitar o ingresso de calçado no país. No ano passado, foram vendidos à Argentina 15,3 milhões de pares de calçado brasileiro, mas os negociadores argentinos querem que o Brasil diminua suas vendas ao país vizinho abaixo dos níveis do ano passado, apesar do crescimento do mercado e da dificuldade dos produtores locais em atender a expansão da demanda.