Título: Oposição já começa a recolher assinaturas para a CPI dos Correios
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2005, Política, p. A5

A oposição começou a se articular ontem para conseguir as assinaturas necessárias à criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar denúncias sobre suposto esquema de corrupção existente na Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). O esquema, segundo depoimento gravado em vídeo do ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material da estatal, Maurício Marinho, envolveria o diretor de Administração da ECT, Antônio Osório Menezes Batista, e o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). Ontem, Jefferson recusou-se novamente a se pronunciar publicamente sobre o caso. Ele só o fará hoje, às 16h, no plenário da Câmara. De acordo com o depoimento de Marinho, obtido pela revista "Veja", Jefferson seria o principal responsável pelo suposto esquema de corrupção, que cobrava propinas para favorecer empresas em licitações da ECT. Marinho foi afastado do cargo a pedido, na terça-feira, alegando problemas de Saúde. Osório, que também foi citado por Marinho como integrante do esquema de corrupção, foi afastado no sábado pelo ministro das Comunicações, Eunício Oliveira. A Executiva Nacional do PTB, em documento divulgado ontem, nega envolvimento do partido com suposto esquema de corrupção. A nota afirma que Marinho não é filiado ao PTB nem se relaciona com o partido. "Reiteramos nossa confiança no presidente do PTB, Roberto Jefferson, que foi de forma leviana, indevida e criminosa citado pelo sr. Maurício Marinho", diz a nota. A nota foi elaborada em reunião de mais de quatro horas em que estiveram presentes, além de Jefferson e Osório, o líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE), e o secretário-geral do partido, Luiz Antônio Fleury Filho (SP). Múcio disse que Jefferson se manteve calmo durante toda a reunião. Ele disse a seus correligionários que foi atingido de forma injustificada. Múcio também distribuiu na Câmara carta que Osório apresentou durante reunião extraordinária da diretoria dos Correios. No documento, além de se declarar inocente e colocar seus sigilos bancário e fiscal à disposição, Osório sustenta que não tinha relações pessoais com Marinho e que o indicou para o cargo porque ele tem 28 anos de carreira na ECT e um bom currículo. "Não tememos CPI ou investigação, pelo contrário, somos os maiores interessados em que tudo se esclareça", afirmou o ex-diretor dos Correios. Já Jefferson teria procurado ontem alguns ministros para comunicar o tom de sua defesa. Ele dirá hoje que seu nome foi utilizado por Marinho nas negociações de propina sem seu conhecimento. Ele também antecipou que um dos dois empresários que fizeram a gravação, um ex-coronel da Marinha, o procurou para propor negócios nos Correios, mas que ele não aceitou. Contou ainda que, posteriormente, esses dois empresários foram convidar Marinho para propor contrato como consultor privado. Teria sido nesse momento que Marinho, segundo Jefferson, inventou a história envolvendo o PTB com o intuito de valorizar seu trabalho. Esta mesma explicação foi dada pelo ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, que também entrou em contato com ministros da coordenação de governo. O procurador-geral da República, Claudio Fonteles, disse ontem que um procurador da área criminal trabalhará com a Polícia Federal no inquérito que investigará o caso. Após a conclusão das investigações, Fonteles decidirá se apresenta denúncia contra Jefferson ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ontem, parlamentares do PFL e do PSDB fizeram discursos na Câmara e no Senado defendendo a criação de uma CPI. No início da noite, o PFL já tinha pronto o requerimento para a abertura de uma CPI mista. Para que isso aconteça, são necessárias as assinaturas de 27 senadores e 181 deputados. "Há indícios claros de corrupção. Tudo foi gravado e não resta outra solução senão uma CPI", afirmou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Os partidos da base aliada ao governo, da qual o PTB faz parte, não se pronunciaram sobre a proposta de CPI. O líder do PT no Senado, Delcídio Amaral, admitiu que a oposição tem força para criar a CPI. Um assessor direto do presidente informou ontem à noite que Lula ficou "indignado" com a denúncia. Tão logo leu a matéria da revista "Veja", o presidente contatou o ministro das Comunicações e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, "ordenando-lhes que façam uma investigação profunda do caso". Lula não esteve com o presidente do PTB desde a eclosão das denúncias. (Com agências noticiosas)