Título: Forte no Congresso, PTB é ruim de voto
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2005, Política, p. A5

O PTB é um partido comandado com mão de ferro pela sua direção nacional. Embora organizado em todo o Brasil, o partido não tem nenhum diretório estadual constituído: nos Estados está sob administração de comissões provisórias, que podem ser dissolvidas por Jefferson a qualquer tempo. Uma mostra do poder se deu na eleição do ano passado. Roberto Jefferson decidiu que o PTB deveria apoiar o PT em um grupo de cidades estratégicas. Em cidades como Ribeirão Preto, onde o partido era controlado pelos adversários do PT, as direções locais foram sumariamente destituídas.

Com três senadores e 47 deputados, o PTB é um partido de existência acima de tudo parlamentar. No governo Lula, tornou-se um estuário de oposicionistas interessados em aderir ao governo. Elegeu 26 deputados em 2002, perdeu oito e ganhou 29. Recebeu oito pefelistas, sete tucanos e três pedetistas. Outros onze deputados vieram de partidos governistas. Somente a gaúcha Kelly Moraes, não teve outra sigla na vida. Seus congressistas distribuem-se por 19 Estados, sem que seja majoritário em qualquer parte do País. Os dois governadores são aquisições recentes: o maranhense José Reinaldo Tavares elegeu-se pelo PFL e rompeu com a família Sarney. O de Roraima, Ottomar Pinto, assumiu este ano com a cassação do antecessor, Flamarion Portela. O PTB elegeu um prefeito de capital, Duciomar Costa, em Belém. Filiou o de Maceió, Cícero Almeida, um ex-pedetista. Forte no Congresso e fraco nas urnas, o PTB depende de alianças com o Planalto e com os caciques regionais para alçar vôo. Não tem e não pretende ter candidato próprio em 2006. Sem condições, já garantiu endosso à reeleição de Lula. Apoiou Ciro Gomes (PPS) na eleição em 2002 e anunciou a sua adesão ao novo governo na manhã de 28 de outubro daquele ano, horas depois da vitória petista. Sob o comando de um trio formado pelo presidente José Carlos Martinez, o líder na Câmara Roberto Jefferson e o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, o partido se transformou em linha auxiliar petista no Congresso, com o plano de se tornar a segunda bancada governista na Câmara. Entrou com apetite na busca de filiações do que na nomeação de indicados com real poder político. Seus representantes no governo lidam com orçamentos altos, mas com pouca na autonomia. Na BR Distribuidora, por exemplo, o partido indicou o diretor de operações da BR Distribuidora, Fernando Cunha, que tem um orçamento de R$ 800 milhões por ano. Mas Cunha tem como adjunto um nomeado pelo PMDB e todas as decisões da área passam pelo crivo da diretoria executiva da estatal. Esta linha foi mantida após a morte de Martinez em um acidente e sua substituição quase automática por Jefferson. O deputado fluminense comanda a sigla, mas a bancada não o segue sem nuances. Os petebistas de São Paulo, como Fleury Filho e Arnaldo Faria de Sá, gostariam de ver o partido mais independente no Legislativo. O líder da bancada, José Múcio (PE), sempre verbaliza as insatisfações contra o Planalto. Jefferson raramente faz uma crítica pública a Lula. No ano passado, a relação do PTB com o PT gerou um episódio constrangedor para o governo. Foi divulgado um suposto acordo entre os dois partidos pelo qual os deputados do PTB receberiam R$ 10 milhões dos petistas, em troca do apoio na eleição municipal. O acordo não teria sido respeitado pelo PT. As partes envolvidas negaram o acerto e o assunto caiu no esquecimento. (Colaboraram Raymundo Costa, de Brasília, e Cláudia Schüffner, do Rio)