Título: Lula procura líderes para votar a reforma tributária
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2005, Política, p. A6
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu convidar o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, e os líderes de todas siglas para uma reunião amanhã, em Brasília. Frustrando seus próprios aliados, Lula se recusou a fazer um encontro apenas com os líderes dos partidos aliados, antes da reunião ampliada com Severino e os representantes dos outros partidos. A recusa deve aumentar ainda mais a temperatura de encontro programado para hoje entre líderes de todos os partidos da base aliada, exceto o PT. "Queríamos uma reunião para acertar a base, a relação entre o PT e os demais partidos do governo, mas como não foi possível iremos ao encontro de Lula da mesma forma", afirmou Renato Casagrande (ES), líder do PSB na Câmara e um dos organizadores do almoço de hoje. "Acredito que essa reunião com Lula será mais institucional. Não conseguiremos aprofundar em nenhum tema. Se ao menos sair uma proposta de pauta de votações para a Câmara, já terá sido um sucesso." Um dos principais motivos para o encontro entre os partidos aliados, sem a participação do PT, foram as declarações públicas do ministro Luiz Gushiken, (Comunicação do Governo e Gestão Estratégica), defendendo que a Coordenação Política do governo volte a ser feita pelo PT. Na prática, Gushiken pediu, em nome do PT, a demissão do ministro Aldo Rebelo, do PCdoB. "Não vamos para a reunião pensando em pedir cargos. Vamos para discutir a nossa relação com o governo e com o PT. Queremos deixar tudo mais harmonioso", disse Casagrande. Uma avaliação difundida entre os partidos é que o PT, embora tenha a maior bancada, representa apenas 20% do Congresso, mas acumula mais de 70% dos cargos com poder no Executivo. Além de Casagrande, Renildo Calheiros (PCdoB-PE), correligionário de Aldo Rebelo, está organizando o almoço dos partidos da base sem o PT. Já para o encontro de quarta-feira, a expectativa de acordo não está muito clara. Para alguns deputados, a reunião servirá para celebrar de vez uma suposta boa fase no relacionamento entre Lula e Severino. Alguns interlocutores do governo acreditam, no entanto, que o objetivo de Lula é fazer com que os partidos fechem acordo pela reforma tributária, principal impedimento para a base aliada voltar a analisar as sete medidas provisórias (MPs) que estão trancando a pauta da Câmara. "Essa reunião não poderá nem definir a pauta, pois, se isso ocorrer, o governo estará passando por cima da autonomia do Congresso", afirmou o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).