Título: Mercado duvida de alta do yuan
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2005, Internacional, p. A7

Analistas acreditam ser pouco provável uma mudança drástica na taxa de câmbio da China até o fim do ano, apesar das especulações nos mercados financeiros. O economista-chefe do J.P. Morgan, James Glassmann, acredita que a valorização do yuan deve ficar entre 2 e 3% até o fim do ano. "Não vejo como valorizar em 40% ou adotar câmbio livre com os problemas bancários", diz. A primeira ação dos EUA para demonstrar a impaciência com a lentidão da mudança cambial foi a adoção de cotas para produtos têxteis do país na sexta-feira. Depois do anúncio das novas cotas, foram marcadas reuniões entre os governos americano e chinês. A decisão reduz a pressão no Congresso dos EUA por uma valorização imediata do yuan ou altas tarifas sobre o total de importações, e visa muito mais ganhar apoio político interno para outras causas comerciais, como a aprovação do acordo com a América Central, do que algum efeito imediato no déficit. O Tesouro envia hoje ao Congresso um relatório sobre a política cambial dos parceiros comerciais dos EUA, expressando sua opinião sobre a possibilidade de manipulação da moeda na China. Até dezembro, o Tesouro afirmava em relatório semestral que não havia manipulação. A China deu um sinal de que seu primeiro movimento no câmbio será gradual, restringindo o total de empréstimos em moeda estrangeira permitido aos bancos e reduzindo a entrada de dinheiro especulativo. Nicholas Lardy, autor de livros sobre a economia chinesa e pesquisador do Instituto de Economia Internacional (IEI), concorda que não há como o mercado "forçar" uma valorização cambial na China pelas dificuldades de conversibilidade. Mas lembra que no caso da Coréia do Sul, que passou por uma valorização, houve dificuldades para controlar os agregados monetários e o forte influxo de capital. "Acho que a liderança mais alta do partido quer fazer tudo gradualmente, como sempre. Mas a diretoria do Banco Central talvez não preferisse fazer nada a valorizar pouco. Isso poderá só aumentar as apostas numa valorização maior." O subsecretário de Estado, Robert Zoellick, deixou clara a associação ao Cafta num discurso ontem em Washington. "Os EUA e a América Central enfrentam um desafio comum, a emergência da China como um grande poder econômico. (...) Uma camiseta feita em Honduras tem mais de 60% de conteúdo americano, e uma feita na China tem praticamente nada", afirmou. Foram adotadas cotas apenas para três produtos (calças de algodão, roupa íntima e blusas de malha), usando uma provisão específica do acordo da OMC para o país. O efeito prático da adoção das cotas no déficit dos EUA com a China "tende a zero", segundo Lardy, do IEI. Também não é difícil triangular importações para driblar a cota. Mas a história seria bem diferente se os EUA adotassem tarifas sobre o total das importações chinesas, como sugerem alguns parlamentares. Seria uma estratégia de risco abrir uma guerra comercial, porque até agora os chineses não usaram sua carta mais poderosa, a possibilidade de desestabilizar o mercado de dívida pública. Segundo o Departamento do Tesouro, a China é o segundo maior detentor estrangeiro de bônus americanos, com US$ 223,5 bilhões em março de 2005, atrás apenas dos japoneses (US$ 679,5 bilhões). Sugestões para a diversificação das reservas pelos bancos centrais já criaram grande volatilidade no mercado nos últimos meses. Considerando a hipótese de maior valorização da moeda chinesa, haveria o efeito imediato de elevação de preços das importações dos EUA. Mas, por outro lado, uma desaceleração dos investimentos na China poderia produzir deflação em commodities como petróleo e metais. O setor mais prejudicado nos EUA seria o varejo, principalmente as grandes redes de desconto. Ainda há dúvidas sobre o efeito na atividade econômica americana em geral. Se houver pressões inflacionárias relevantes, é provável que haja um desaquecimento. Seria difícil substituir importações, já que muitas empresas americanas trabalham com atividades integradas e teriam que fazer o caminho contrário dos investimentos nos últimos anos. Portanto, uma valorização não necessariamente faria o déficit desabar. "As duas economias estão cada vez mais interdependentes", diz Glassmann. No caso de uma valorização grande, o aumento do consumo doméstico chinês poderia compensar a redução de exportações.