Título: Despedidas por todo o país
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 31/03/2010, Política, p. 6

Governadores deixam o cargo nesta semana para concorrer no pleito de outubro e aproveitam os últimos dias à frente do Executivo estadual

Impedidos de concorrer à reeleição e dispostos a alçar novos voos, 10 governadores tiraram proveito do cargo nos últimos dias antes de colocar o pé na estrada. Pela legislação eleitoral, os pré-candidatos têm até sábado para se desincompatibilizar, mas o feriado de Páscoa fez muita gente antecipar a despedida. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), pré-candidato à Presidência da República, por exemplo, deixa hoje o cargo ao lado da militância tucana. O partido convocou cerca de 6 mil pessoas para o ato, às 15h, no Palácio dos Bandeirantes. Sindicatos do funcionalismo estadual organizam, no mesmo horário, protesto contra o governo. Em sua última inauguração antes de deixar o cargo, ontem no Rodoanel, Serra tentou deixar a marca de uma gestão competente e alfinetou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No discurso, Serra disse que a obra não teve problemas com o Tribunal de Contas da União (TCU) e do Estado (TCE), e nem com o Ministério Público Federal ou com o Estadual ao contrário de diversas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.

À exceção de Serra, os demais governadores concorrem a uma vaga no Senado, o que deve esquentar a disputa em alguns estados. O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), confirmou a desincompatibilização. A decisão dividiu a base aliada no estado. Mas o petista garante que Lula insistiu que ele se tornasse candidato ao Senado. No Amapá, a falta de acordo político quase obrigou Waldez Góes, do PDT, a permanecer no cargo e desistir da disputa por uma vaga no Senado. A base aliada no estado, formada por quase todos os partidos, com exceção do PSB e do PSol, cobra promessas não cumpridas na campanha. Mas Góes se lançará mesmo a uma cadeira no parlamento.

Em Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB) deixa hoje o governo. O tucano, que chegou a ser cotado para a Presidência, transfere o cargo para o vice, Antônio Anastasia (PSDB), que será candidato ao governo mineiro em outubro. Aécio anunciou que pretende tirar 10 dias de folga e, depois, vai gastar sola de sapato para eleger seu sucessor. A lei eleitoral permite que os vices continuem no cargo para disputar a reeleição.

No Amazonas, o dia será longo para o governador Eduardo Braga (PMDB). Antes de passar o bastão para o vice, numa cerimônia marcada para as 20h30, o pré-candidato ao Senado inaugura uma série de obras. A transferência do governo de Rondônia também será no fim do dia: às 19h, Ivo Cassol (PP) entrega a faixa ao vice. Wilma de Faria (PSB) faz o mesmo às 16h em Natal, no Rio Grande do Norte. O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), transmite o cargo hoje ao seu vice, Silval Barbosa (PMDB). A cerimônia acontece na Assembleia Legislativa. Em seguida, o novo governador discursa e empossa os secretários.

Já no Paraná, a carta de renúncia do governador Roberto Requião (PMDB) foi entregue ontem na Assembleia Legislativa pelo secretário da Casa Civil, Rafael Iatauro. Requião se afasta para disputar uma vaga no Senado e passa o cargo de governador oficialmente para Orlando Pessuti (PMDB) amanhã. Um dos últimos compromissos de Requião como governador será prestar contas do governo. Ele faz hoje um balanço do que prometeu e do que foi realizado. Luiz Henrique da Silveira (PMDB), de Santa Catarina, renunciou na semana passada ao cargo. O vice Leonel Pavan já assumiu o governo.

Reunião Depois do lançamento do PAC 2, os governadores com a intenção de se desincompatibilizar se reuniram com o presidente Lula. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que a reunião era para discutir temas políticos e a participação deles no processo de sucessão não apenas nos estados, mas também no apoio nacional à ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência da República.

Só Ciro animado

Josie Jeronimo Especial para o Correio

O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) segue animado com a possibilidade de ser confirmado como candidato à Presidência da República pelo partido. Enquanto os líderes debatem se vale a pena pagar o preço do isolamento para lançar candidatura própria ao Planalto, Ciro criou um site apresentando-se como um político preparado para ser presidente e ainda argumenta que poderia reunir PT e PMDB em torno de sua candidatura. O Ciro está muito animado. Como pré-candidato, ele está agindo bem, mas vamos calcular o que é melhor para o PSB, pondera o senador Renato Casagrande (PSB-ES).

Nesse cálculo, o PSB leva em conta a perda de terreno em São Paulo, estado onde o PT gostaria que Ciro fosse candidato ao governo. O deputado cearense não embarcou nas intenções do PT, que acabou optando pela candidatura do senador Aloizio Mercadante (PT) para o governo local. Essa manobra assustou o PSB. O partido contava com fôlego de pelo menos mais um mês antes de decidir os rumos da legenda em São Paulo e agora tenta recuperar o tempo perdido negociando com o PT o nome do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (PSB), para ser vice de Mercadante.

O deputado Jilmar Tatto (PT-SP), entretanto, afirma que há apenas uma hipótese de Skaf ser vice de Mercadante: com Ciro desistindo da corrida presidencial. O PT chegou a abrir mão da candidatura própria em São Paulo e Ciro não quis ser o candidato da base aliada. Agora o PT já escolheu. Skaf até pode fazer parte da chapa como vice, mas isso vai depender do PSB. O Ciro agora é um problema nacional, não de São Paulo.