Título: TAP ganha mercado em acordo com VarigVanessa Adachi De São Paulo
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2005, Empresas &, p. B4

Caso o acordo ainda preliminar com a estatal portuguesa TAP abra caminho para a capitalização da Varig, o benefício para a aérea brasileira parece inegável. Ainda que isso dependa da admissão de outros sócios. Mas, embora o negócio venha sendo apresentado como uma solução para a crise financeira da Varig, a empresa não é a única que tem muito a ganhar com a transação. Para a TAP, a aquisição de fatia da Varig ou um simples acordo operacional abre espaço para que ela aumente a internacionalização de sua operação e ganhe mercado.

Hoje, a TAP opera 40 vôos semanais para o Brasil. Mais que o dobro de freqüências que tinha em 2000, quando o brasileiro Fernando Pinto assumiu a sua gestão. Além de fazerem a ligação óbvia com São Paulo e Rio, muitos destes vôos são diretos para capitais do Nordeste brasileiro. Com essa estratégia, a TAP transformou Lisboa numa espécie de "hub" para turistas europeus que rumam para férias nas praias brasileiras. Ou mesmo para quem viaja a negócios. O fluxo com o Brasil já representa 10% do número de passageiros transportados pela TAP, que em 2004 foi de 6,5 milhões. "Com a Varig, a TAP tende a aumentar ainda mais o fluxo com o Brasil", afirma André Castellini, consultor da Bain & Company especializado no setor aéreo. No curto prazo, diz ele, a empresa pode assumir, por exemplo, os vôos da Varig para Lisboa. O mesmo poderia acontecer com Madri, capital espanhola. "Com isso a Varig poderia liberar aviões para operar em rotas domésticas." Do ponto de vista estratégico, avalia Castellini, o acesso ao mercado brasileiro permitiria à TAP crescer sensivelmente e internacionalizar seu negócio, tendência apontada no planejamento estratégico da companhia. "O mercado português é pequeno e a ligação com a Varig seria um ativo interessante que valorizaria a TAP para a futura privatização", avalia. Tamanha a importância do negócio com a Varig, que o apoio do governo de Portugal é ostensivo. O tema virou uma questão de Estado, com conversas envolvendo os governos dos dois países que já duram alguns meses. A dúvida, segundo pessoas que acompanham o tema, é saber qual foi a participação da nova gestão da Varig, comandada por David Zylbersztajn, no acordo. É evidente que as conversas são antigas e o grupo foi empossado há apenas uma semana. Há quem interprete que o governo petista teria apressado uma formalização com a TAP diante da entrada na Varig de executivos alinhados com o PSDB. Embora o documento assinado entre as duas empresas não avance em detalhes, a proposta encaminhada pela TAP fala na aquisição de até 20% do capital da Varig e em assumir a gestão. Comandar a Varig é ainda uma vitória pessoal para Fernando Pinto, que hoje dirige a TAP. Uma espécie de volta por cima. Funcionário da Varig por 30 anos, o executivo presidiu a aérea brasileira entre 1996 e maio de 2000. Saiu depois de desentender-se com a Fundação Ruben Berta, que pressionava por melhores resultados. No mesmo ano negociou sua ida para a companhia portuguesa. Em comunicado, Pinto confirmou a assinatura de memorando com a Varig e diz que ele abre "uma janela de oportunidade para tentar estabelecer uma dimensão estratégica no Atlântico Sul".