Título: Brasil atrai investimentos de US$ 2,5 bi
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2005, Empresas &, p. B8

Em três anos anos o Brasil vai figurar entre os principais produtores de níquel do mundo. A disparada dos preços do produto na London Metal Exchange (a cotação na LME, de Londres, saiu de US$ 6 mil por tonelada em 2001 e deve encostar nos US$ 13 mil, na média, de 2005) provocou a retomada de grandes projetos no país ligados ao metal a partir de 2003. Com a expansão da exploração do minério, o Brasil passará em breve da décima para a quarta posição entre os maiores produtores mundiais , atrás somente de Rússia, Austrália e Canadá. Muito diferente do quadro observado em 1998 quando o Brasil sequer figurava entre os principais países com potencial de investimento. "A produção brasileira ficará compatível com as reservas existentes", afirmou o secretário de geologia, mineração e transformação mineral, do Ministério de Minas e Energia (MME), Giles Carriconde Azevedo. Segundo o executivo, há sete anos as reservas brasileiras eram de 6 milhões de toneladas de níquel contido. Atualmente, de acordo com o Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) as jazidas são estimadas em 8,3 milhões, o que representa 6% do total mundial. Até 2008, a produção nacional deve atingir 160 mil toneladas de níquel contido em minério, por por conta de projetos em desenvolvimento pela canadense Canico (dona da Mineração Onça Puma, no Pará), da Anglo American (por meio da Codemin), da Vale do Rio Doce e da Votorantim Metais. Todos esses projetos somarão US$ 2,5 bilhões. A exploração da mina do Vermelho, na região de Carajás (PA), deve ter início das obras no segundo semestre. Outros R$ 750 milhões podem ser aplicados na segunda fase da Onça Puma, que deverá começar suas operações em 2010. Assim, até lá a produção brasileira poderia ultrapassar a marca de 200 mil toneladas anuais. Praticamente todo esse material será destinado ao mercado externo. O consumo crescente nos últimos anos (sobretudo devido à industrialização da China) causou a escassez do material, utilizado principalmente na produção de aço inoxidável. Para se ter uma idéia, entre 2000 e 2004 a produção chinesa de níquel era de 52 mil toneladas. Passou para 73 mil. No mesmo intervalo de comparação, o consumo subiu de 65 mil toneladas para 155 mil, o equivalente a 12% da demanda global, segundo João Bosco Silva, diretor-superintendente da Votorantim Metais. O metal tem várias aplicações. Entre elas se destacam a fabricação de aço inox, usado em automóveis e utensílios domésticos. Dados da LME mostram que neste ano o déficit de níquel do mundo deverá atingir 16 mil toneladas, passando por um superávit de 22 mil toneladas em 2006, com uma produção mundial de 1,3 milhão de toneladas de metal já beneficiado (por meio de eletrólise, "matte" ou contido em ferro-níquel). Tal nível de crescimento, porém, apenas consegue suprir o crescimento vegetativo do consumo mundial, calculado em 3% anuais nos próximos 10 anos. Além disso, os projetos de mineração nos principais países produtores já estão maduros e não há previsão de novas prospecções. Tais fatores devem garantir bons preços para a commodity nos próximos anos. A Votorantim Metais, a maior produtora de níquel do país finaliza estudos de viabilidade para a instalação de uma usina em Niquelândia (GO), capaz de produzir 10 mil toneladas anuais de ferro-níquel. As obras devem exigir cerca de US$ 150 milhões e levarão dois anos para serem concluídas. A empresa também fez recentes investimentos para ampliar para 23 mil toneladas/ano a produção de níquel contido em carbonato em Niquelândia e no processo de eletrólise no bairro de São Miguel Paulista (SP), da ordem de R$ 200 milhões. Efetua ainda prospecções em busca de níquel e zinco, que deverão consumir neste ano R$ 40 milhões. A expectativa da Votorantim Metais é de faturamento de R$ 4 bilhões neste ano; desse total, cerca de R$ 1,2 bilhão será garantido com níquel. De acordo com Bosco, a empresa faz projeções "a longo prazo" com o níquel valendo US$ 8 mil por tonelada. Júlio Carvalho, da Mineração Onça Puma, é bem mais otimista. Ele acredita que a cotação do níquel, atualmente em US$ 16 mil a tonelada, possa chegar aos US$ 20 mil. A Onça Puma deve começar a operar sua unidade de ferro níquel em 2007, com capacidade de 37 mil toneladas/ano. Em sua primeira fase, o projeto deverá custar US$ 750 milhões. As obras de infra-estrutura já começaram. A Anglo American já deu partida ao investimento de US$ 700 milhões para elevar em 40 mil toneladas (das atuais 10 mil ) com o projeto Barro Alto, em Goiás. A Vale informou que deve gastar US$ 875 milhões em Vermelho, uma área próxima à da mina de Onça Puma, com capacidade de 45 mil toneladas de metal na liga.