Título: Jazidas baianas podem ter 8 bilhões de toneladas
Autor: Patrick Cruz
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2005, Empresas &, p. B9

Em tempos de escassez de matérias-primas e aumento de preço de 71,5% no minério de ferro, o Estado da Bahia ganha destaque de uma hora para outra. O Estado pode se tornar uma nova província no país, que tem a megajazida de Carajás, no Pará, e o Quadrilátero Ferrífero, nas Minas Gerais. São áreas exploradas pela gigante Vale do Rio Doce e suas controladas, pela CSN e empresas de menor porte. O potencial baiano de exploração do produto pode ser o dobro do conhecido até agora. Números preliminares da Mineração Brasileira de Ferro (MBF), empresa até há poucos dias desconhecida, indicam que reservas localizadas em Xique Xique, no Vale do São Francisco, a 584 quilômetros de Salvador, devem adicionar pelo menos mais 4 bilhões de toneladas às atuais mapeadas com teor de ferro expressivo em território baiano. A MBF recebeu no início de 2004 o alvará de pesquisa para três áreas no Estado, concedido pelo Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM), órgão que controla a concessão de direitos minerários no país. O primeiro bloco, localizado em Caetité, a 757 quilômetros de Salvador, já está em fase final de preparativos para uma concorrência internacional que escolherá um grupo para fazer a extração do mineral. Até agora, 12 grupos já assinaram o protocolo de intenção para participar do processo, informa o presidente da MBF, o geólogo João Carlos Cavalcanti. Entre os interessados estão empresas da Índia, Austrália, Inglaterra, Canadá, China, Japão e Rússia. Como o documento tem cláusula de confidencialidade, Cavalcanti diz estar impedido de revelar nomes das empresas. A lista pode incluir desde as gigantes Rio Tinto, BHP Billiton e Anglo American até tradings e siderúrgicas japonesas. Os dois blocos têm reservas já estimadas em 4 bilhões de toneladas - a segunda área fica ao norte de Caetité e estende-se até Boquira, a 649 quilômetros da capital. É um "cinturão", como define Cavalcanti, que se estende por 165 quilômetros. "Será um dos maiores 'cinturões´ de ferro do mundo." Para ele, "a Bahia será um novo distrito ferrífero". O terceiro bloco, na fase de avaliação, é o de Xique Xique. Cavalcanti relata que evidências da presença de minério de ferro em solo baiano já eram conhecidas desde 1979, quando a estatal Cia. de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM) elaborou o mapeamento geológico básico, batizado depois de Projeto Brumado-Caetité. Os documentos, segundo ele, estavam disponíveis para consulta pública, mas não despertando interesse do setor. O minério tem teor de ferro entre 37% e 67%. O geólogo leu os relatórios e decidiu ir a campo no começo do ano passado. Inicialmente, a pesquisa seria feita em parceria com o empresário Eike Batista, por meio da empresa que criaram em conjunto, a IRX. A sociedade não foi adiante e Cavalcanti decidiu bancar o negócio só, financiando o investimento com venda de alguns imóveis. Ex-funcionário da estatal Cia. Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) de 1974 a 1986, vem atuando na área privada na exploração de reservas de água mineral. O alvará de que dispõe o geólogo permite apenas pesquisas e estudos de viabilidade das áreas. O DNPM só decidirá sobre a concessão de lavra, que autoriza a extração, quando sair o resultado da licitação. As visitas técnicas começarão no início de junho. A previsão é que o resultado saia 90 dias depois. O processo de licitação está a cargo da Metal Data Engenharia. Estimativas preliminares apontam uma mina com produção inicial de 10 milhões de toneladas ao ano por volta de 2007/2008, após investimentos totais de US$ 2 bilhões no projeto. A previsão é atingir 30 milhões três anos depois. "A Bahia, que nunca teve minério, agora mostrou indícios e virou alvo de interesse de empresas que querem criar lá uma produção mínero-siderúrgica", disse o diretor geral adjunto do DNPM, João César de Freitas Pinheiro.