Título: Caminho de volta
Autor: Mello, Alessandra
Fonte: Correio Braziliense, 28/03/2010, Economia, p. 16

Desemprego em alta e estagnação na economia expulsam brasileiros de países ricos Com a crise bem menos grave em casa, quem saiu está retornando A crise que atingiu em cheio os países desenvolvidos está induzindo a volta para casa de brasileiros que partiram anos atrás para fazer a vida no exterior. A dura realidade das altas taxas de desemprego e da estagnação econômica, combinação presente no Japão, Estados Unidos e União Europeia, pesa na decisão desses conterrâneos, que já sofrem com a saudade e o preconceito. Como o Brasil saiu rapidamente da crise, passou a ser visto com outros olhos. ¿Esse movimento está ocorrendo com gradações diferentes de país para país¿, observou o subsecretário-geral das Comunidades Brasileiras no Exterior do Itamaraty, embaixador Oto Agripino Maia. ¿A razão econômica não é a única, mas ela tem o seu peso.¿ No Japão, o retorno dos brasileiros é visível. Segundo o Ministério da Justiça japonês, pela primeira vez em muitos anos, o saldo migratório foi negativo para o Brasil. De janeiro de 2008 a junho de 2009 (último dado disponível), 142.238 brasileiros deixaram o Japão. Outros 87.574 lá chegaram. O resultado do período foi negativo em 54.709 pessoas. O pico de saída se deu em janeiro de 2009, no auge da crise econômica, quando 12.473 brasileiros voltaram para casa. ¿Quando perde o emprego na fábrica onde foi contratado, o trabalhador brasileiro tem grande dificuldade de recolocação. Ele não conhece a língua e tem pouca flexibilidade para a reciclagem¿, explicou. Talvez por isso, 13.909 brasileiros solicitaram o auxílio-retorno oferecido pelo governo japonês, apesar de ficarem impedidos de regressar ao Japão pelos três anos seguintes. Desses, 11.150 já receberam o benefício. Apesar de todas as dificuldades, ainda há brasileiros rumando para lá. Em junho do ano passado, apenas 2.568 pessoas embarcaram para a terra do sol nascente. Hoje, pelos cálculos do Itamaraty, 280 mil brasileiros ainda estariam no Japão, número inferior aos 350 mil de 2008. Em outros países, a volta dos brasileiros não é tão acentuada. O movimento de saída é consideravelmente menor nos Estados Unidos e na Europa. Maia atribui o comportamento à maior flexibilidade dos imigrantes em relação ao mercado de trabalho, mudando de profissão quando há uma queda expressiva na atividade em que esteja atuando. O entregador de pizza, por exemplo, pode virar pedreiro. Nos Estados Unidos, existe a migração regional. O refluxo na migração também pode ser medido pela entrada de recursos no país. Em outubro de 2008, o Brasil recebeu de cidadãos seus vivendo no exterior US$ 345,1 milhões. Em julho de 2009, o ingresso somou apenas US$ 154,8 milhões.