Título: Setubal critica possível expansão do Conselho
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2005, Finanças, p. C2

O diretor presidente do Banco Itaú Holding Financeira, Roberto Egydio Setubal, afirmou ontem ser totalmente contrário à ampliação do número de participantes do Conselho Monetário Nacional (CMN). "Eu vejo com preocupação um CMN que oriente uma política monetária baseada em diversas correntes da sociedade", afirmou o presidente do Itaú ao ser questionado sobre o tema, depois de uma entrevista coletiva para anunciar a reestruturação de suas empresas de seguros. Setubal disse que a presença de "dez, vinte pessoas" no Conselho, como era até a década de 90, foi "uma experiência desastrosa" para o país, associando a elevada quantidade de membros e opiniões às causas que levaram à hiperinflação, que assolou a economia brasileira nos anos 80. Para o presidente do Itaú, a ampliação do CMN significa colocar pressão política sobre a condução da economia e do controle da inflação. "Abrir a política monetária a pressões políticas é deixar de ter uma política técnica", afirmou. Setubal aproveitou para mandar seu recado sobre a taxa de juros. Evitando declarar sua aposta para as próximas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, o presidente do segundo maior banco privado do país disse que o BC tem agido "com a dureza" que deveria contra a inflação, mas que ainda assim, a alta de preços continua "em focos bem visíveis". "Ninguém deseja taxa de juros altas que criam tensões na economia", disse, elogiando a atuação do Banco Central que, para ele, tem deixado claro que não será transigente com a inflação. "O que estamos assistindo é o BC fazer um grande esforço de contenção da demanda", afirmou Setubal. Nesse ponto, iniciou sua crítica à política econômica. "Concordo com o presidente que precisamos explorar outros instrumentos de controle da inflação, além da política monetária", disse o presidente do Itaú, referindo-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que declarou recentemente estar "convencido de que os juros não podem ser o único instrumento para controlar a inflação". Que instrumentos seriam esses? "Maior esforço na política fiscal", respondeu Setubal, frisando que o governo deveria cortar os gastos públicos e começar a se preocupar com a redução do déficit nominal (receitas menos despesas, incluindo os juros das dívidas interna e externa), e não apenas em fazer superávits primários. Para ele, a redução da taxa de juros só ajudaria a conter o déficit nominal, "se fosse sustentável", ou seja, se não provocasse a reaquecimento dos preços. Questionado sobre se o governo deveria ou não, na opinião dele, relaxar a meta de inflação para 2007 - decisão que será tomada em junho pelo CMN -, Setubal respondeu que, "se atingir a meta para 2006, a meta para 2007 será mais fácil".