Título: Wadih Mutran, o vereador das ambulâncias, foi o mais votado da região
Autor: Cristiane Agostine e Jamil Nakad Junior
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2004, Especial, p. A-12

Se a subprefeitura da Vila Maria, com 304 mil habitantes, ficasse nas mãos do vereador mais votado na região esse posto caberia ao corretor de imóveis e e advogado Wadih Mutran (PP), 65 anos, vereador que começa o quarto mandato. Entre votos nominais (dados aos candidatos) e de legenda (dados aos partidos), o PP liderou a disputa com 26.380 votos, sendo 65% deles para Mutran. Se dependesse da avaliação da ONG Voto Consciente ficaria de fora da próxima Câmara de Vereadores. Foi o 53º dos 55 vereadores da Casa. Sua votação tem decrescido ao longo dos anos. Dos 39 projetos de sua autoria que se tornaram leis, 18 foram de concessões de títulos, nomeações de ruas e datas comemorativas. Aprovou a construção de um monumento em homenagem a Jânio Quadros e projetos contra violência nos estádios e para que diretores de escola incentivem o ensino do hino nacional. Também regularizou a comercialização de cachorro-quente em carros, mas proibiu o comércio ambulante nas calçadas. Foi favorável à criação da taxa do lixo, apesar da crítica dos habitantes da região. No bairro é conhecido como o "homem das ambulâncias" e como candidato do que personifica a Vila Maria. "Wadih é meu amigo de infância, é do bairro. Aqui somos bairristas. Ele pôs ambulância aqui", resume João de Barros, 66. A primeira ambulância data dos anos 80, quando o ainda candidato disputou sua primeira eleição, sem sucesso. "Votei no Wadih porque ele é do bairro e vai trazer benfeitoria", acrescenta Fernando Tamai, o lojista de 48 anos, que representa um dos 2,5 mil estabelecimentos voltados para o comércio na região, a maior atividade econômica da área. Quando se confrontam os votos para prefeito e vereador, nota-se que houve um descolamento dos votos dados aos candidatos a vereador do PP e ao candidato a prefeito do partido, Paulo Maluf. Enquanto Maluf teve 24.895 votos para prefeito, seus vereadores obtiveram 26.380 votos. Wadih Mutran teve na região 14% dos votos válidos para vereador, enquanto em toda a cidade ficou com apenas 0,59%. Concentrou seu eleitorado na Vila Maria e na região vizinha, o Jaçanã, outro bastião malufista. Por isso, Mutran acaba sendo uma referência para os moradores. Para o bem, e para o mal. A ambulante Jaidete Lisboa, 60, reclama por não ter sido contemplada com a ajuda do vereador. "Não votei no Wadih porque você vai pedir um favor e ele não faz. Uma mão lava a outra, então não dá", justifica a ambulante. Wadih foi o segundo mais votado no PP atrás apenas do cantor Agnaldo Timóteo que trocou o domicílio eleitoral do Rio para São Paulo e conquistou um voto mais concentrado na Santa Ifigênia e na Casa Verde. O terceiro mais votado no partido, com 27.596 votos, foi Borges, mas seus votos ficaram mais concentrados na região de Pirituba. Jeovane Soares de Melo, 55, votou em Wadih, mas diz entender pouco sobre vereador: "Ele é conhecido, é do bairro. Sei que deu cadeira de rodas, que atende a população. Ele pintou meu bar". A gratidão em forma de voto também está no discurso de Jorge Luís Romeiro, 40, que diz que Wadih o ajudou depois de um acidente que o colocou numa cadeira de rodas. "Ele me ajudou muito depois do acidente. Wadih me emprestou a ambulância, de graça, para ir até Sorocaba. Minha família toda vota nele." O advogado Francisco de Assis Mendes Ribeiro, 72, também vê o auxílio do vereador no bairro: "Wadih é um moço que trabalha pela zona norte, pelo bairro. Ele mostrou muito trabalho prestado". Alexandre Soares Neves, 31, autônomo, também abre seu voto no pepista: "Votei no Wadih porque ele sempre ajudou todo mundo da minha região. Tudo o que a gente precisa, ele vem e faz. É melhor votar em quem sempre te ajuda do que em quem você não conhece ou nunca faz nada. Ele é conhecido por aqui como o homem das ambulâncias". Segundo mais votado da região foi André Luiz do PPS, que não conseguiu se eleger apesar dos 2.999 votos na Vila Maria. O terceiro mais votado no reduto malufista foi José Aníbal (PSDB) com 2.908 votos, que no cômputo geral acabou ficando como a maior votação de São Paulo. Os candidatos a vereador das coligações ligadas à candidatura de Marta Suplicy também não foram eficazes em manter os votos dados a vereador para o mesmo candidato prefeito da coligação. Marta somou 30.242 votos, enquanto os vereadores das coligações PT/PTB, Liberal Trabalhista, PRTB e PCdoB, somaram 31.892 votos para vereador. Os mais votados da coligação de Marta na região foram Gilmar Argenta (PCdoB), Arselino Tatto (PT), que preside a Câmara dos Vereadores, e Celso Jatene (PTB). Apenas Argenta não se elegeu. A campanha casada não conseguiu atingir a plenitude dos votos dados aos vereadores. Já a votação dada aos vereadores de Serra somam juntos 35.716 votos. O tucano teve 60.822 votos na Vila Maria. Serra se beneficiou e conseguiu assim arregimentar votos de outros candidatos que votaram para vereador num partido mas preferiram o PSDB para prefeito. (CA e JNJ)