Título: Agricultura está pessimista com OMC
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2005, Brasil, p. A3

Representantes do agronegócio demonstraram ontem pessimismo com o andamento das negociações da Rodada Doha, da Organização Mundial de Comércio (OMC). Eles temem que os países assinem um acordo "medíocre" durante a reunião de Hong Kong, em dezembro. Já os funcionários do governo estão otimistas. O debate ocorreu em seminário sobre os dez anos da OMC em São Paulo. "O acordo será pouco medíocre ou muito medíocre", disse Pedro de Camargo Neto, especialista em negociações internacionais e presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). Ele acredita que o Brasil deveria abrir novos painéis na OMC ao invés de trabalhar por um acordo de poucos resultados. Camargo Neto prefere "um mau acordo a uma boa demanda", mas acredita que os litígios são fruto da falta de resultados nas negociações. "Sou pessimista. Estamos caminhando para um acordo tímido e minimalista", afirmou Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), entidade financiada por associações do agronegócio. Ele diz que falta vontade política aos governos para um acordo ambicioso. A União Européia reformou sua Política Agrícola Comum (PAC) e não pretende ir além. Os EUA estão enfrentando dificuldades para aprovar o Cafta (Acordo de Livre Comércio com a América Central) no Congresso. "Acho que a Rodada vai até 2007. Serão seis anos de trabalho para, no fim, cortar água", diz Jank. Na Rodada do Uruguai, os países consolidaram um patamar para as tarifas de importação na OMC, mas, na realidade, praticam percentuais inferiores. No jargão do comércio internacional, "cortar água" significa reduzir apenas a tarifa consolidada e não a efetivamente aplicada. Na prática, não há ganho de comércio. Essa diferença é mais comum nos países em desenvolvimento. Cortes de 50% a 60% nas tarifas consolidadas de Brasil e Índia não significam muito. Os indianos consolidaram tarifa média de 116%, mas aplicam 37%. O Brasil consolidou 35% e pratica 13%. "Corre o risco de a negociação da OMC produzir um corte que preserve o status quo", disse Jank. O secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Mário Mugnaini, discordou da avaliação do setor privado. "Sou otimista sobre a reunião de Hong Kong. Elementos da questão dos subsídios foram resolvidos. É preciso finalizar", afirmou, citando o compromisso acertado pelos países-membros, em julho, de acabar com os subsídios à exportação na agricultura. Para Mugnaini, o acordo na OMC será importante para dar nova diretriz as negociações do Acordo de Livre Comércio das Américas (Alca) e do acordo entre Mercosul e da União Européia. O setor privado teme que o Brasil perca, durante as negociações, os ganhos obtidos no painel do algodão, processo vencido pelo Brasil na OMC contra os subsídios americanos. Para os especialistas, os EUA estão tentando conseguir uma contrapartida para retirar os subsídios ao algodão. "Isso é inaceitável", diz Jank. Segundo Roberto Azevêdo, coordenador-geral de contenciosos do Itamaraty, o Brasil já retirou da mesa de negociação os pontos abordados pelo painel do algodão. "Não vamos ter que negociar duas vezes. Não há por que gastar capital político".