Título: Centros urbanos exportam o crime
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 31/03/2010, Brasil, p. 0

Levantamento mostra que índice de assassinatos no país teve pouca variação em 10 anos, mas migrou das capitais para o interior

Em 10 anos, o país perdeu diariamente 140pessoas assassinadas. Ou 512 mil homicídios, entre 1997 e 2007, segundoo levantamento Mapa da Violência, divulgado ontem pelo InstitutoSangari, que traz uma série de dados preocupantes. O relatório mostrauma migração dos casos de homicídios das capitais e regiõesmetropolitanas para o interior do país. Em 1997, eram 13,5 assassinatospara cada 100 mil pessoas, enquanto em 2007, o número subiu para 18,5crimes. A explicação dada pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autordo mapa, é que muitas dessas cidades do interior atraíram investimentose geração de empregos e renda. Com isso, se tornaram atraentes para acriminalidade. Além disso, conforme o estudo, as capitais e as regiõesmetropolitanas receberam tratamento prioritário do novo Plano Nacionalde Segurança Pública e do Fundo Nacional de Segurança.

Foram canalizados recursos federais e estaduais principalmentepara aparelhamento dos sistemas de segurança pública nos grandesconglomerados. Isso dificultou a ação da criminalidade organizada, quemigrou para as áreas de menor risco, justamente o interior dosestados, diz o relatório. Com isso, São Paulo, Rio de Janeiro e MinasGerais, por exemplo, tiveram uma redução significativa dos homicídios.Nos três estados estão concentrados 41% da população brasileira e 55%dos crimes de mortes ocorridos em uma década. Torna-se óbvio quequalquer alteração nesses estados, pelo seu peso, terá visívelrepercussão nas taxas nacionais, diagnostica o documento.

Com os resultados dos três estados e uma freada nos casos dehomicídio em Pernambuco, Espírito Santo, Rondônia e Acre e docrescimento nos casos no Maranhão, Alagoas e Piauí, os números geraisdo Brasil permaneceram praticamente inalterados em 10 anos. Em 1997,foram 24,5 homicídios para cada 100 mil pessoas, enquanto em 2007registrou-se 25,2 casos. Nas regiões metropolitanas e nas capitaishouve uma queda considerável 25% no primeiro caso e 19,8% no segundo.As explicações, de acordo com o relatório, foram a Campanha e oEstatuto do Desarmamento, que entraram em vigor no final de 2003.

Mas o documento trouxe uma preocupação que aumenta a cada dia: ocrescimento dos homicídios entre jovens, Em 1980 eram 30 casos paracada 100 mil habitantes, crescendo para 50,1 crimes em 2007. Assim,pode-se afirmar que a história recente da violência que resulta emhomicídio, no Brasil, é a história do crescimento dessa violência entrejovens. Uma não terá solução sem a outra, afirma Waiselfisz. O Mapa daViolência observa que, apesar haver uma estagnação na faixa etáriaentre 15 a 24 anos, existe uma forte tendência de elevação no futuro.

Guerras O levantamento mostra ainda que as principais vítimas de homicídiono Brasil são os homens: 90% dos casos, mas o número de mulheresassassinadas também é grande. Em quatro anos de 2001 a 2004 cercade 19,4 mil mulheres foram mortas. Houve ainda crescimento de vítimasnegras, cujos índices aumentaram 21 % em relação a períodos anteriores.O relatório foi feito baseado em dados do Subsistema de Informações deMortalidade (SIM) do Ministério da Saúde; do Sistema de InformaçãoEstatística da Organização Mundial de Saúde.

De 1997 a 2007, vários crimes de grande repercussão marcaram ocotidiano brasileiro. Com isso, o número de mortes supera o total devítimas das guerras da Chechênia, Guatemala e El Salvador. O Rio,apesar de apresentar índices satisfatórios de queda, registrou pelomenos 1.260 mortes em confrontos entre criminosos e policiais. NoComplexo do Alemão, em junho de 2007, foram mortas 19 pessoas em 10horas de tiroteio.

Alto econstante

Dados de uma pesquisa nacional realizada entre1997 e 2007 no país mostram que Pernambuco foi o estado do Nordeste queapresentou menor crescimento de homicídios em 10 anos: as mortesviolentas aumentaram uma média de 6,8% contra 53,3% da região. Masainda não existem motivos para comemorar, segundo o sociólogo JúlioJacobo Waiselfisz, autor do estudo Mapa da Violência. De acordo com opesquisador, o resultado mostra que, apesar de os índices não teremcrescido como em outros estados, permaneceram altos e constantes. Aanálise revela que o estado passou uma década sem mudar a posição noranking e ficou novamente na 3ª colocação de mais violento do país.

Júlio Jacobo pondera que os números devem servir de norte paraelaboração de políticas públicas, não só por mostrar um panorama nãodos estados, como de todas as regiões metropolitanas e municípios dointerior. Ele compara índices, explicando que Alagoas e Maranhãoostentaram uma média de crescimento de 147,3% e 188,4% em dez anos, masfrisa que Pernambuco permaneceu sem mudanças substanciais. As taxas dePernambuco permaneceram constantes. Você observa, por exemplo, queAlagoas aumentou demais: o índice de homicídios por 100 mil habitantesera 24,1 em 1997 e pulou para 59,6, ou seja, mais que o dobro. MasPernambuco já era alto. Em 1997, a taxa por 100 mil habitantes era de49,7, a maior do Nordeste.