Título: Palocci descarta cortar crédito para conter inflação
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2005, Brasil, p. A5

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, descartou ontem a possibilidade de deter a expansão do crédito consignado como instrumento de controle da inflação. Palocci admite que o empréstimo em folha de pagamento tem aquecido a demanda e que isso pressiona a política monetária no curto prazo. Mas diz que, a médio e longo prazos, os efeitos serão positivos. "Não posso deixar de lado uma conquista estrutural no campo do crédito em função de um episódio de pressão inflacionária", argumentou. O principal instrumento utilizado no controle inflacionário são os juros, reforçou o ministro. Segundo ele, a política econômica é feita para equilibrar o país e permitir que todos ganhem com o fortalecimento dos fundamentos da economia. Para Palocci, é "um equívoco pensar que a melhoria do crédito prejudica os fundamentos da economia". O ministro ressaltou que "o crédito consignado faz com que os trabalhadores estejam pagando hoje metade ou até mesmo um terço dos juros que pagavam em seus empréstimos há dois anos". Esse tipo de crédito é oferecido pelos bancos por taxas menores do que a de outros produtos, uma vez que é descontado diretamente da folha de pagamento, diminuindo o risco de inadimplência. Palocci disse também não acreditar que a política monetária austera esteja afetando os investimentos. Pelo contrário, o ministro afirma que o empresário que está de olho no comportamento da economia a longo prazo percebe que o governo busca equilíbrio macroeconômico e controle da inflação. "Com isso, há consistência para o investimento", argumentou. Palocci, indiretamente, rebateu as críticas de que haveria uma dicotomia nas políticas oficiais, pois o governo estaria adotando uma política expansionista no crédito e outra restritiva com a alta dos juros básicos. Por um lado, o crédito estimula a demanda. De outro, o Banco Central preocupa-se com o cumprimento da meta de inflação, fixada em 5,1% para este ano, e eleva a taxa Selic. O ministro insistiu na necessidade de olhar os resultados no médio e longo prazos. Alguns analistas, contudo já vêem os juros afetando negativamente o investimento. O próprio Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que estima uma queda de 2,2% na taxa de investimento fixo do primeiro trimestre em relação ao último trimestre de 2004, já com ajuste sazonal. Ao mesmo tempo, o consumo ancorado no crédito continua a crescer, e os preços livres, que seriam mais afetados pela elevação dos juros, também estão em movimento ascendente. A desaceleração da economia no primeiro quadrimestre foi refutada pelo ministro. Ele citou o aumento de "quase 30% no investimento direto estrangeiro no primeiro trimestre" e a geração recorde de empregos formais em abril como exemplos de que o país continua a crescer. Na análise de Palocci, a elevação dos juros tem impactado todo o processo econômico do país. "Temos efeitos sobre o consumo, sobre o crédito e sobre o câmbio", enumera. Mas isso é necessário para evitar as consequências de uma inflação alta, que recai primeiro sobre a renda das famílias, de acordo com a avaliação de Palocci. "Um descuido com o processo inflacionário pode pôr a perder anos de esforço", diz o ministro. A valorização do real ante o dólar, decorrente da maior entrada de capital estrangeiro no país, foi amenizada pelo ministro, que lembrou o bom desempenho da balança comercial. "Os resultados dos primeiros meses do ano contrariaram todas as expectativas, inclusive as nossas". Para Palocci, a apreciação cambial reflete a melhora da economia brasileira. "O que vou fazer? Piorar o Brasil para o real se desvalorizar?", ironizou.