Título: Lula compara seu governo aos de Juscelino e Vargas
Autor: Raymundo Costa, Taciana Collet e Henrique Gomes Ba
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2005, Política, p. A7

Em almoço com os líderes dos partidos que compõem a base de sustentação do governo na Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou o ministro Aldo Rebelo na Coordenação Política do Planalto, criticou o "hegemonismo" do PT e disse que, em dois anos e quatro meses de mandato, seu governo está vivendo momentos "comparáveis" aos melhores de Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas. Apesar das mais de duas horas de conversa, os líderes deixaram o Palácio do Planalto convencidos de que muito ainda precisa ser feito para o governo acertar o passo no Congresso. Apesar de ter reafirmado que o ministro da Coordenação Política é Aldo Rebelo, o presidente não deu ao deputado comunista os instrumentos que todos julgam necessário para que ele exerça a articulação. O almoço de Lula com os aliados foi uma reação articulada por Aldo para esvaziar outro almoço, marcado para ontem, no mesmo horário, dos líderes dos partidos da base de sustentação sem a presença do PT. Era uma crítica explicita à fritura de Aldo pelo Partido dos Trabalhadores e à suposta hegemonia da legenda na ocupação de postos do governo. Chamados para conversar com Lula, os líderes do PMDB, PTB, PSB, PL, PP, PV, PCdoB não tiveram outra opção. O PT, que havia sido excluído, foi junto. Lula abriu a reunião dizendo que o café da manhã que terá hoje com a Mesa da Câmara e líderes da oposição será uma tentativa dele para "melhorar as relações institucionais" do governo com o Congresso e definir uma pauta comum com a Câmara. Contou que em outubro do ano passado já havia dito a João Paulo Cunha (PT-SP) e José Sarney (PMDB-AP), ex-presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, que vetaria o aumento de 15% concedido aos servidores do Legislativo. E que já havia se entendido com o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) sobre o assunto. Ao entrar no assunto Aldo Rebelo, Lula disse que o contencioso do PT com o ministro era "uma briga inventada", e que o ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), que há duas semanas reivindicou o cargo para o partido, já havia conversado com Aldo. "O Aldo só deixará de ser ministro no dia em que nós dois combinarmos não ser mais. Ele é o meu ministro da Coordenação Política", enfatizou Lula, segundo depoimento dos líderes presentes ao almoço com o presidente. A declaração de Lula não impressionou os líderes. O presidente repetiu o que havia dito a eles em outra reunião realizada logo após a eleição do presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti. Como da outra vez, Lula disse que terá participação mais ativa na articulação política, ao lado de Aldo Rebelo. O PMDB foi o partido que mais insistiu na questão relativa à liberação de emendas ao Orçamento. Coube ao líder do PCdoB, Renildo Calheiros, criticar a hegemonia do PT. Lula disse não ser "favorável ao hegemonismo do PT no governo", segundo o depoimento dos líderes, e chegou a recomendar ao seu líder na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) para ser mais "líder da base e menos líder do PT". Chinaglia, à saída, confirmou: "Fui orientado na frente de todos que tenho de ser o líder do governo e de todos os partidos". O líder petista na Câmara, Paulo Rocha (PA), defendeu a sigla. Segundo Paulo Rocha, o governo precisa identificar qual o problema de cada partido da base de sustentação e resolvê-lo. Para o deputado, o problema não está na distribuição de cargos no primeiro e segundo escalões, mas nas "pequenas posições" nos Estados. Lula confirmou que pediu um inventário sobre a distribuição dos cargos. "O sucesso ou fracasso agora depende dos desdobramentos da reunião", disse o líder do PSB, Renato Casagrande (ES). O temor dos líderes é que Lula tenha feito apenas "mais um discurso". De qualquer forma, após o almoço Aldo Rebelo visitou o líder Arlindo Chinaglia na Câmara.