Título: Fundação Ruben Berta quer BNDES com o controle temporário da Varig
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2005, Empresas &, p. B2

A Fundação Ruben Berta quer repassar o controle da Varig ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em caráter temporário, até concretizar a venda da companhia aérea a outro grupo. A idéia, apresentada há cerca de um mês ao banco estatal, é criar um fundo de investimento e participações (FIP), no qual seriam depositadas as ações da fundação, dona de 87% do capital da Varig. Esse fundo seria administrado pela BNDES Participações, segundo proposta da fundação. Com a função única de atuar como gestora das ações, a BNDESPar não exerceria influência sobre a direção executiva da Varig, muito menos arcaria com o passivo da empresa, estimado em cerca de R$ 6,5 bilhões. A intenção é apenas dar credibilidade ao processo de transferência do controle acionário da companhia aérea, sem especulações em torno da resistência da Fundação Ruben Berta em abrir mão dela. "É um mecanismo para disponibilizar o bloco de controle da Varig e um gesto de boa vontade da fundação para acabar com certas premissas", afirmou ontem o presidente do conselho de curadores da FRB, Ernesto Zanata. Por "certas premissas", Zanata disse referir-se às constantes insinuações de que a fundação não está disposta a sair do controle da empresa. Em audiência pública na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, ele reiterou que a FRB não vê problema em ficar com menos de 20% das ações, após a venda da empresa aérea. Zanata garantiu que, nas negociações com a TAP para a transferência de 20% do capital acionário - limite imposto pela Constituição à participação estrangeira numa companhia do setor -, a estatal portuguesa deverá entrar com dinheiro novo para capitalizar a Varig. Questionado sobre a informação de que a fundação ainda relutaria em ceder plenos poderes ao novo controlador, ele desconversou. Na semana passada, o Valor publicou que a FRB quer manter o direito de veto nas decisões da empresa e continuar nomeando a maioria dos membros do conselho de administração da Varig, mesmo após a transferência do controle acionário. Zanata evitou negar a informação. Hoje, o presidente do conselho de administração da Varig, David Zylberstajn, e o presidente executivo, Henrique Neves, terão reuniões com parlamentares e na Infraero. A estatal, responsável pela administração dos aeroportos do país, depositou ontem um cheque pré-datado de R$ 9,1 milhões dado pela companhia aérea há duas semanas. O valor refere-se a quatro dias em que a empresa havia deixado de pagar as taxas aeroportuárias cobradas diariamente pela Infraero. O governo ainda aposta em uma solução de mercado para a crise da Varig, mas começa a mudar o tom quanto à possibilidade de envolvimento direto na salvação da empresa. "Se não houver solução de mercado, o Estado tomará alguma outra", afirmou o diretor-geral do Departamento de Aviação Civil (DAC), brigadeiro Jorge Godinho. Em depoimento na comissão, ele previu uma "crise no transporte aéreo" se a Varig deixar de operar, discurso que havia sido aposentado pelo governo nos últimos meses. Não está descartada a hipótese de que a solução acabe passando pelo projeto de lei que cria a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O senador Delcídio Amaral (PT-MS), líder do PT no Senado, afirmou que apresentará o seu relatório em até duas semanas. Ele disse ter sido orientado pelo Palácio do Planalto a criar uma agência "limpa", preocupada apenas com os aspectos administrativos e de funcionamento do novo órgão regulador. Pessoalmente, porém, Delcídio faz várias ressalvas. Em um primeiro rascunho, o senador tirou do relatório emendas como a autorização do Legislativo para um "encontro de contas" entre as dívidas da Varig com a União e a indenização devida pelo Estado pelas perdas decorrentes do congelamento de tarifas no Plano Cruzado. Ele afirmou que voltará a procurar ministros do governo, nos próximos dias, para discutir a inclusão desse ponto. "Sou obediente às instruções que recebo, mas acho muito difícil que a solução para a Varig não passe por uma pitada de governo", avaliou.