Título: Acesso em casa dá os primeiros passos
Autor: Talita Moreira, Ricardo Cesar e João Luiz Rosa
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2005, Empresas &, p. B3

O nome soa esquisito e a tecnologia é complexa, mas o uso de voz sobre IP começa a despertar a atenção de clientes residenciais, interessados em baixar a conta de telefone. Empresas novatas de telecomunicações e prestadoras de serviços de TV paga dão os primeiros passos nesse mercado nascente, que pode representar concorrência inédita às concessionárias. As operadoras de TV a cabo TVA e Net e a empresa de telefonia Transit planejam oferecer a tecnologia ao mercado residencial nos próximos meses. A TVA, do grupo Abril, atua junto com a Primeira Escolha, operadora criada na segunda metade do ano passado. O serviço será lançado neste mês. A meta é alcançar 10 mil clientes - entre domicílios e pequenas e microempresas - até o fim do ano, diz Mário Leonel, presidente da Primeira Escolha. Hoje a operadora tem 150 assinantes corporativos. "A demanda que esperávamos se confirmou", afirma. Segundo Leonel, a voz sobre IP é atraente para novos competidores porque reduz os custos de implantação de uma rede própria. A Primeira Escolha deve investir US$ 15 milhões em dois anos. "Se tivéssemos optado por uma rede tradicional, os valores seriam muito mais altos", observa. As chamadas "espelhinhos" das concessionárias de telefonia apostam na tecnologia para ter custos compatíveis com os das operadoras tradicionais. A GVT conquistou 2,6 mil clientes de telefonia IP desde que lançou o serviço, em setembro. Do total, 85% são assinantes residenciais. "É neste público, do consumidor leigo, que a GVT vai conseguir se diferenciar mais", afirma Rodrigo Dienstmann, vice-presidente executivo. Para contornar a falta de rede local sem ter de fechar acordos de interconexão com as empresas tradicionais, as novatas têm saído à caça de parcerias alternativas. É o caso da Primeira Escolha, que tem autorização da Anatel para atuar em telefonia mas padece de falta de infra-estrutura. As empresas de TV a cabo tornaram-se alvos cobiçados por terem rede própria chegando até o consumidor final. Não por acaso, nos EUA o setor está roubando clientes das teles. No Brasil, as empresas de TV paga também deverão se tornar peças importantes, mas com alcance menor: elas não têm mais do que 4 milhões de clientes. A Transit buscou outro caminho e fez acordo com provedores de banda larga via satélite ou rádio, segundo Jorge Noboru, vice-presidente comercial. Até agora, as grandes operadoras não colocaram os pés nesse mercado, embora sejam provedoras importantes de voz sobre IP no segmento corporativo. Mas não há dúvidas de que entrarão na briga se a concorrência incomodar. A Telemar tem um projeto de telefonia IP residencial em teste, mas não há data para oferecê-lo comercialmente. "Temos fôlego para competir. Não precisa ser com voz sobre IP. As pessoas querem um serviço barato, não importa a tecnologia", afirma André Bianchi, diretor de estratégia corporativa. As empresas de voz sobre IP têm pela frente outro obstáculo. Há no país 24 milhões de computadores pessoais, mas somente 2,4 milhões de assinantes residenciais de internet em banda larga. (TM)