Título: Cresce aposta de estabilidade do juro
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2005, Finanças, p. C2

O IGP-10 mostrou zero de inflação em maio, contra alta de 1,17% em abril, e engrossou a fileira de analistas que aposta na interrupção, hoje, pelo Copom do Banco Central, do aperto monetário de 3,5 pontos percentuais iniciado há oito meses. Os juros caíram pesadamente no mercado futuro da BM&F sob o argumento de que a deflação verificada no atacado chegará ao varejo. O CDI previsto para a virada do mês recuou 0,01 ponto, para 19,58%, e não embute nenhuma expectativa de alta da Selic, hoje em 19,50%. A posição mais líquida, para a virada do ano, tombou de 19,54% para 19,44%. A decisão que os nove membros do Copom irão tomar hoje à tarde resultará mais de um exercício de arte do que de técnica. Mais de sabedoria produzida pela vivência em economia política do que de rigor econométrico. Tecnicamente, há justificativas boas e precisas tanto para manter a taxa inalterada quanto para aplicar mais um aumento de 0,25 ponto. O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, listou em relatório distribuído ontem à tarde aos clientes do banco dez bons argumentos para a estabilidade do juro e dez outros igualmente bons motivos para elevá-lo. O BC decidirá. Qualquer que seja a opção, não surpreenderá o mercado. Mas a escolha pela via da nona alta seguida do juro voltará a dar emoção ao pregão de DI futuro. Nessa hipótese, toda a curva de juros terá de sofrer ajustes. E a ampliação do conservadorismo tornará mais nublada a visão de quando poderá se iniciar o movimento de declínio da Selic.

IGP-10 zero derruba projeções no DI futuro

Politicamente, será muito complicado ao BC justificar uma decisão de alta diante da inflação muito baixa revelada pelos IGPs, dos números mostrando retrocesso das exportações e dos que relatam a piora da dívida pública interna. Vai passar a impressão de pura teimosia destinada a exibir poder independente e paralelo. A postura "em dúvida, contra o réu" não é mais aceitável. Nem o posicionamento arrogante segundo o qual o modelo matemático neoclássico contra a inflação é infalível, se a realidade não se enquadra nele é porque Deus errou. O apelo à turbulência externa, invocada nas duas últimas atas, não cola mais. O petróleo e as commodities caíram e, mesmo diante de números que mostram um quadro de estagflação nos EUA - o núcleo da inflação de abril no atacado subiu para 0,30% quando tinha sido de 0,10% em março, ao passo que a produção industrial recuou 0,2% no mês passado -, os mercados não se inquietam. A aversão ao risco persiste, mas bem atenuada. O dólar comercial experimentou ontem sua quarta alta seguida por dois fatores que sugerem ao Copom a busca do equilíbrio: sinais de debilidade das exportações e a confusão política geral em que se meteu o governo Lula. Nova alta da Selic agravará ainda mais os dois fatores e não conseguirá aumentar a oferta de capital estrangeiro interessado em alta rentabilidade e plena liquidez. A moeda americana fechou a R$ 2,4820, em elevação de 0,16%. A alta do risco-país - de 4,4%, para 454 pontos-base - derivou da correção de operações especulativas que, na véspera, derrubaram o indicador já no início da noite.