Título: Infraero estuda retomar hangares e balcões da Vasp
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2004, Empresas, p. B-3

A Infraero pode retomar hangares e balcões de check-in que pertencem à Vasp e estão sendo pouco utilizados nos principais aeroportos do país. O presidente da estatal, Carlos Wilson, admite a intenção de recuperar essas áreas e fazer novas licitações para entregá-las às companhias aéreas que vêm crescendo rapidamente e enfrentam problemas de espaço para operar em aeroportos movimentados. "Francamente, acho que seria até mais sensato que a Vasp devolvesse espontaneamente essas áreas", afirmou Wilson ao Valor. "Se ela não usa e também não devolve, só está aumentando a sua dívida com a Infraero. A Vasp já podia ter nos oferecido o prédio que possui em Brasília para amortizar suas dívidas, mas nunca percebemos essa intenção." Segundo ele, outras companhias que estão inadimplentes não poderão concorrer à entrega dos espaços ociosos atualmente pertencentes à Vasp. Além da empresa de Wagner Canhedo, a Varig e a Total acumulam dívidas neste ano pela falta de pagamento das taxas de embarque. "Só estão habilitadas a participar das licitações as companhias em dia com a Infraero", disse. "No caso, os espaços podem ir para a TAM, para a Gol, BRA e Ocean Air." Por ser a empresa que mais cresce hoje no setor aéreo, a Gol enfrenta os maiores problemas de espaço. De janeiro a setembro, a companhia conquistou 21,8% de participação do mercado de vôos domésticos. No mesmo período do ano passado, tinha 19,1%. Wilson pondera, no entanto, que a Vasp poderá contestar na Justiça a retomada dos espaços subutilizados. Em alguns aeroportos, a Transbrasil ainda mantém áreas por causa das ações judiciais que moveu. O presidente da Infraero recebeu sinal verde do governo para usar todos os mecanismos cabíveis para pressionar Vasp e Varig a pagar dívidas recentes. A mensagem foi transmitida na reunião que ele teve na sexta-feira com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. O mesmo recado já havia sido dado pelo ministro da Defesa, José Viegas. De acordo com Wilson, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou no início do mandato que a Infraero fosse "muito paciente" com a Varig, em função da crise internacional no setor de aviação. A Infraero tem adotado essa tolerância com as dívidas acumuladas desde os anos 90, mas as operações recentes não obedecem à mesma lógica. Desde o início do ano, o mercado doméstico recuperou-se e o número de passageiros cresceu 11,5% até setembro, segundo o Departamento de Aviação Civil (DAC). "As empresas aéreas estão operando com um movimento bem acima do que se esperava", disse Wilson. "Podemos aguardar uma solução para as dívidas do passado. Mas não vamos ter uma tolerância em relação ao presente que amanhã leve a Infraero a ser responsabilizada, por meio do seu conselho de administração e da sua diretoria-executiva, de ter sido leniente." Para Wilson, deixar de cobrar os pagamentos atuais poderia comprometer os investimentos e a segurança necessários nos aeroportos. Em 2003, a Infraero arrecadou R$ 274,5 milhões em tarifas de embarque - o equivalente a 18,5% de sua receita bruta. Outros R$ 222,7 milhões vieram das taxas de pouso e permanência, que responderam por 15%. A Vasp começou a pagar as taxas de embarque na semana passada à Infraero, de forma diária e antecipada. Só assim pode operar seus vôos. A Varig tem até o fim do mês para acertar com a estatal uma dívida de R$ 108 milhões que acumula desde o início do ano pela falta de pagamento. Wilson deixou claro que a Infraero só está disposta a negociar se as companhias assumirem o compromisso de pagar essas dívidas ainda em 2004, sem deixar acumular o débito para o próximo ano.