Título: Aposta mantida
Autor: Flavia Lima
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2005, EU &, p. D1

Apesar do fraco desempenho no ano dos fundos Petrobras e Vale, analistas mantêm o otimismo com a aplicação

Mesmo com o mercado acionário em queda, com o Índice Bovespa acumulando perda de 6,8% neste ano até ontem, as apostas no bom desempenho das ações de duas das companhias mais negociadas do indicador, a Vale do Rio Doce e a Petrobras, estão mantidas. Para os investidores - em especial aqueles que usaram parte do FGTS nas ações - a recomendação dos analistas é ter sangue frio nos períodos mais difíceis. Só o pagamento de dividendos (parte do lucro distribuído aos acionistas ) previstos pelos analistas cobre com folga a variação do fundo de garantia, de taxa referencial (TR) mais 3%. No acumulado do ano, até o dia 12, os fundos de privatização da Petrobras renderam, em média, 3,18%, ante leve queda de 0,61% das ações preferenciais (sem direito a voto, mais líquidas) da companhia no mesmo período. Entre as carteiras da Vale, até o dia 12, esses fundos tiveram queda média de 12%. Em igual período, as ações preferenciais da empresa caíram 11,9%. Segundo analistas, o espaço para recuperação é grande. Ontem, as ações da Vale subiram 0,68%, enquanto os papéis da Petrobras ganharam 2,54%. Na última segunda-feira - dia de ganhos para 49 dos 55 papéis que compõem o Ibovespa - Petrobras subiu 1,4% e a Vale figurou entre as três maiores altas do índice, com ganho de quase 5%. A recuperação ainda será incorporado pelos fundos de investimento, que reajustam suas cotas com atraso com relação ao pregão. Como ponto positivo os analistas citam o reajuste de 71,5% em dólar do minério de ferro que a Vale conseguiu em um cenário em que a demanda - em especial do mercado chinês - deve continuar aquecida. A empresa planeja investir US$ 3,3 bilhões em 2005, após investimentos de cerca de US$ 4 bilhões nos últimos dois anos. Segundo Pedro Galdi, analista da corretora do Banco Real, esses são os principais fatores a justificar um lucro líquido 45% superior ao do ano passado, para R$ 9,4 bilhões. Para as ações, Galdi tem preço justo de R$ 123,37, frente os R$ 57,55 por ação no fechamento de ontem. Na Socopa, a recomendação também é de compra para os papéis da mineradora, com projeção de alta entre 80% e 90%. É bom lembrar que as estimativas levam em conta as projeções de resultados das empresas, mas dependem das condições de mercado e da procura pelo papel. A possibilidade de a Vale ter de se desfazer de parte dos ativos que tem na área de logística, porém, faz com a Caemi seja a principal recomendação da Socopa em mineração. Segundo o analista, há riscos de que parte das aquisições não sejam aprovadas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em especial as compras de empresas que não pertencem ao setor de mineração. Para as preferenciais da Petrobras, o preço justo seria de R$ 136,00, potencial de alta de 41% sobre os R$ 96,15 por ação do fechamento de ontem, diz Luiz Otávio Broad, da Ágora Senior. O lucro líquido projetado para 2005 é de R$ 20,8 bilhões, com a expectativa de que 25% desse total seja distribuído na forma de dividendo - um retorno sobre ação de 5,9%, superior portanto à variação de 5,3% do FGTS nos últimos 12 meses. Para a corretora do Banco Real, o preço justo das ações estaria em R$ 144,5. "Estamos revisando o papel, mas se houver modificação, será para melhor", diz a analista Gina Montone, que destaca a balança comercial superavitária da companhia em 2004. Para ela, os investimentos mais fortes da empresa neste ano não devem sacrificar o volume de dividendos distribuídos, que deve ser 13% maior do que em 2004, para R$ 5,7 bilhões. As projeções otimistas devem se refletir nos fundos FGTS. No Banco do Brasil, as carteiras FGTS Petrobras rendem cerca de 290% desde que foram criadas - em agosto de 2000 - ante variação próxima de 31% do FGTS em igual período. Ou seja, o investidor que deixou R$ 10 mil no fundo de garantia tem hoje pouco mais de R$ 13 mil. Já quem aplicou esse valor em um fundo de privatização tem R$ 39 mil. Lançadas quase dois anos após os fundos Petrobras, as carteiras da Vale ganham mais, ampliando a diferença com relação à variação do FGTS. No BB, a rentabilidade média dos fundos FGTS Vale do Rio Doce encosta nos 310% desde março de 2002, ante 21% acumulados pelo fundo de garantia. Neste caso, R$ 10 mil investidos inicialmente teriam se transformado em R$ 41 mil no fundo de privatização, frente R$ 12 mil do FGTS. No Banco do Brasil, existem R$ 210 milhões aplicados em fundos Petrobras com recursos do fundo de garantia e outros R$ 316 milhões em fundos da Vale, diz o gerente de divisão de fundos de ações do BB, Rubens Monteiro. Ele lembra que essas carteiras não recebem novas aplicações e só podem ser movimentados nas hipóteses de resgates previstas para o fundo de garantia - como a compra da casa própria. Os saques nos fundos não são recomendados. "A Vale é a nossa maior empresa exportadora e a Petrobras caminha em direção à auto-suficiência em petróleo", diz. "Só a necessidade justificaria os saques." Antonio Delmar do Nascimento, da Caixa Econômica Federal (CEF), também destaca a solidez das empresas como motivo para manter a aplicação no longo prazo. "Mas se o investidor vai precisar do dinheiro nos próximos seis meses, o melhor é sair", diz. A Caixa administra o maior volume em fundos com recursos do FGTS: R$ 1,8 bilhão nos fundos de privatização da Petrobras e R$ 1,2 bilhão nos da Vale. Na instituição, a rentabilidade dos fundos FGTS tanto da Vale quanto da Petrobras fica em torno de 290% desde a criação.