Título: Manutenção da Selic pode animar bolsa e renda fixa
Autor: Felipe Frisch
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2005, EU &, p. D2

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) a respeito do rumo da taxa básica de juros na reunião de hoje pode tirar pelo menos uma indefinição dos mercados, caso a escolha seja pela manutenção da Selic. Ainda que os juros estejam altos, em 19,5% ao ano, a manutenção seria entendida como um sinal de que o ciclo de elevações estaria encerrado e as quedas poderiam acontecer já no segundo semestre. A medida beneficiaria principalmente a bolsa no curto prazo, mas não seria suficiente para uma onda de otimismo, segundo analistas. Isso porque os principais fatores que influenciam o mercado acionário ainda são os indicadores da economia dos EUA e a elevação dos juros pelo Federal Reserve, o banco central americano. Venha a manutenção ou a alta, o cenário dos próximos meses ainda deve ser mais favorável para os fundos DI, que acompanham as taxas diárias de juros. "Os fundos DI continuam sendo o melhor investimento, ainda que a tendência seja, com a estabilidade dos juros, de o ganho deles se igualar aos fundos prefixados", avalia Alex Agostini, economista da GRC Visão. "A renda variável ainda vai sofrer com os juros elevados", diz. Ele explica que a perda de atratividade da bolsa em relação à renda fixa não é só do lado dos investidores, mas também porque boa parte das empresas com ações negociadas sofrem com o aumento do custo de crédito e com a queda no consumo. Nesse cenário, ele considera os papéis mais protegidos dos juros altos os dos bancos, que ganham tanto nas taxas dos empréstimos quanto nas aplicações em títulos do governo. Agostini estima ainda um Ibovespa a 24.500 pontos no fim do ano, mas podendo chegar a 22 mil nesse semestre. O indicador encerrou o pregão de ontem aos 24.412 pontos. Como a expectativa de boa parte dos analistas ainda é de redução dos juros até o fim do ano, o dólar pode voltar a subir no médio prazo. Com juros mais baixos aqui, a atratividade dos títulos do Tesouro americano tende a aumentar. O resultado disso deve ser mais investidores deixando o país e um dólar mais caro, a R$ 2,80 no fim do ano, na avaliação de Agostini. "Esse seria um nível favorável tanto para nivel de atividade quanto para o controle da inflação", diz. Ontem, a moeda americana encerrou o dia valendo R$ 2,482. O estrategista-chefe da SulAmérica Investimentos, Paulo de Sá Pereira, concorda que a preferência seja pelos fundos DI, mas diz que tudo dependerá da sinalização do Copom na ata da semana que vem. "Se ela abrir possibilidades de novas altas, aí pode haver mais volatilidade para quem estiver nos fundos prefixados", diz. Isso porque essas carteiras acompanham o mercado de juros futuros e, se a expectativa for de juros mais altos, o valor dos títulos antigos cai. Para o dólar, ele também vê uma chance de recuperação até o fim do ano, até R$ 2,70. Segundo ele, no nível atual de preços, já há compradores para a moeda, o que deve evitar uma queda maior. Além disso, até dezembro, o aumento dos juros nos EUA e a queda aqui podem prejudicar o fluxo de investimentos no Brasil e favorecer a alta do dólar. Pereira avalia que o motivo para a atual "fraqueza" da bolsa é o fato de que o maior comprador dos últimos meses vinha sendo o investidor estrangeiro, justamente quem está tirando dinheiro do mercado agora. "Eles estão reduzindo a exposição em bolsa no mundo todo por causa dos indicadores de atividade americanos mais fracos", diz. Este seria um motivo, aliás, para esperar altas de juros moderadas pelo Fed, para evitar prejuízos para a economia. E quanto menos os juros subirem nos EUA melhor para o mercado financeiro brasileiro. Segundo Pereira, as dificuldades anunciadas pelas montadoras nos EUA ainda não estão tendo impacto na bolsa aqui. "O problema poderia ser para o mercado de crédito no exterior, mas as empresas brasileiras não estão tendo problemas para emitir lá."