Título: Vida curta para CEOs que não trazem resultados
Autor: Stela Campos
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2005, EU &, p. D6

Esta já está sendo chamada a era dos CEOs efêmeros. Nunca as companhias foram tão intolerantes com performances ruins. Pesquisa realizada pela consultoria Booz Allen Hamilton com 2,5 mil empresas globais, no ano passado, mostrou que as demissões de comandantes relacionadas ao mau desempenho subiram 44% em relação a 2003, representando 31,4% de todos os afastamentos de CEOs registrados no período. Um terço dos 354 líderes que deixaram o cargo nessas empresas em 2004 foram obrigados a sair por não terem sido bons administradores ou terem se desentendido com o "board". Este foi o maior índice de sucessão "forçada" já registrado em sete anos de pesquisa. Agindo de forma pouco ética ou abusando do poder, os CEOs demitidos fizeram com que suas empresas tivessem um retorno 7.7 pontos percentuais menor que a concorrência. O levantamento mostra que os afastamentos por mau desempenho ou em razão fusões e aquisições subiram 300% desde 1995. "Podemos dizer que o CEO hoje corre três vezes mais risco de perder o emprego do que naquela época", diz Ivan de Souza, sócio da Booz Allen Hamilton no Brasil. A taxa de 14% do total de CEOs que deixaram os seus postos em 2004 nas empresas pesquisadas, ficou pouco acima do "turnover" dos EUA no período, que foi de 12%. "O profissional hoje não tem mais proteção por ter se tornado CEO, portanto, corre o mesmo risco dos outros empregados", diz o consultor. Desde o início de 2004, ocorreram inúmeros casos de sucessão "forçada" com bastante visibilidade pelo mundo. Disney, Hewlett Packard, Boeing e AIG são exemplos. Acionistas insatisfeitos também apressaram a aposentadoria de Douglas Daft, da Coca-Cola e Thomas Holtrop da T-Online, apenas para citar alguns. "O ativismo dos acionistas está cada vez mais forte", diz Souza. Na Europa, a intolerância dos acionistas ficou mais evidente, segundo a pesquisa. Lá, 42% das saídas de CEOs em 2004 foram relacionadas à performance. Nos Estados Unidos, esse percentual foi de 31%. O tempo médio de permanência no cargo também encurtou em solo europeu, ficando em 2,5 anos. Enquanto, no geral, em 2004, a média foi de 4,5 anos. "Não dá para dissociar os eventos econômicos da performance das empresas européias. A Alemanha, por exemplo, vive um baixo crescimento dos mercados e isso afeta as companhias e o desempenho dos CEOs", diz o consultor. Na região da Ásia e Pacífico, 17,5% das companhias trocaram de CEO, o que significou um aumento de 230% sobre 2003. "O motivo maior foram as fusões e aquisições", explica Souza. O mercado asiático é muito dinâmico, o que faz com que a cobrança por resultados seja maior do que em outras regiões. "Existe uma forte presença de empresas de alta tecnologia, que envolvem processos de inovação e implicam num risco maior para o desempenho dos CEOs", diz o consultor. Uma outra constatação da pesquisa é que os CEOs contratados no mercado herdam companhias em pior estado. Um ano antes de assumirem o posto, suas empresas apresentavam um retorno para o acionista 5.2 pontos percentuais abaixo da concorrência. "Quem tenta consertar uma empresa corre mais risco de não acertar porque levará um tempo até que possa conhecer bem os desafios do negócio", diz Souza. Uma surpresa do levantamento, segundo o consultor, é que um terço das empresas que foram mais bem sucedidas nos últimos dois anos estavam mais dispostas a forçar um novo CEO a sair do cargo. "É muito difícil seguir o sucesso com mais sucesso. A chance do sucessor fazer isso é sempre menor. É mais fácil uma gestão bem sucedida aparecer se a anterior for ruim", diz o consultor. As companhias que lutaram mais antes do novo líder chegar ao posto tendem a deixa-lo mais tempo no cargo. O levantamento mostrou também que a performance do líder muda durante o tempo que ele permanece no comando. Segundo a pesquisa, tanto os que vieram de fora quanto os que cresceram na própria empresa apresentam um desempenho melhor na primeira metade de sua gestão. Para forçar a renovação no comando antes que este declínio aconteça, muitas companhias, em especial, as norte-americanas estão incentivando os CEOs a se aposentarem mais jovens, na faixa dos 55 anos de idade. Nos Estados Unidos, 17,5% dos que deixaram o posto em 2004, tinham 50 anos ou menos. Esse percentual representou um aumento de 61% em relação ao ano anterior. Muitos dos afastados precocemente vão seguir carreira em outras empresas ou tornam-se conselheiros, segundo Souza. A questão é que 46% das companhias onde o CEO aposentado permaneceu como "chairman" tiveram um desempenho pior que a concorrência. "Quando ele fica na companhia ele tem uma ligação maior com o que foi feito anteriormente, por isso será menos crítico, terá dificuldade em promover ajustes", diz Souza. A média anual de retorno ao acionista dos líderes, que nos últimos sete anos, exerceram a função de "chairman" sem ter sido CEO anteriormente, foi superior à daqueles que exerceram a função de CEO e chairman combinadas, ou daqueles que respondiam pelo cargo de CEO antes de se tornarem "chairman". O setor de Tecnologia da Informação foi o que mais forçou a saída dos CEOs em 2004, sendo responsável por 44,8% de todas as saídas registradas na indústria, seguido do setor de telecomunicações com 42,9%. "Este é um dos mercados mais dinâmicos do mundo, onde sempre ocorrem grandes mudanças tecnológicas e que no momento está passando por desregulamentações que representa um grande desafio para os CEOs", diz Souza.