Título: Pesquisa expõe imagem da Justiça
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 18/05/2005, Legislação & Tributos, p. E1

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Brasília (UnB) demonstra como o imaginário do brasileiro sobre o Poder Judiciário apresenta conflitos. O levantamento, encomendado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), detectou, ao mesmo tempo, um grau de confiança elevado nos juízes e uma certeza altíssima de que há corrupção nas cortes do país. No ranking de confiança nas instituições apresentado pela pesquisa, 59,4% dos entrevistados depositaram firmeza em relação aos juízes. O Supremo não está tão bem avaliado quando os magistrados e alcançou um grau de confiança menor, de 54,8%. Curiosamente, a Justiça brasileira como um todo foi pior avaliada, com 48,8% da confiança dos dois mil entrevistados em todo o país. Os advogados (45,4%) e a polícia (38,1%) ocuparam as duas últimas posições da lista de confiança. Mas, em contrapartida ao alto nível de confiança das pessoas nos magistrados, 65,4% dos entrevistados respondeu "sim" para a pergunta sobre a possibilidade de alguém ser beneficiado ilegalmente pela decisão tomada por um juiz. Ainda segundo a pesquisa da UnB, os juízes foram reprovados na questão de igualdade entre as pessoas. Ao serem indagados se os magistrados tratam igualmente todas as pessoas, apenas 26,9% responderam positivamente. Em outra pergunta, 75% das pessoas acreditam haver corrupção nas cortes de Justiça. "A coerência das pessoas não é permanente. Muitas vezes, elas respondem de acordo com a imagem do senso comum, que é ruim em relação ao Judiciário por conta da divulgação das questões negativas", explica o professor Henrique Castro, coordenador do levantamento e diretor do Centro de Pesquisas de Opinião Pública da UnB. O professor, no entanto, acredita haver um dado ainda mais relevante e surpreendente na pesquisa: o que diz que 83% das pessoas acreditam valer a pena procurar a Justiça. "É uma demonstração de que o Judiciário é um local de resolução de conflitos, de fato", diz Castro. O levantamento aponta outra característica não esperada na percepção das pessoas sobre o Judiciário. Pouco mais de 42% dos entrevistados que disseram já terem se envolvido com processos na Justiça classificaram como "rápido" o tempo de tramitação dos processos nas cortes, contra 31,3% insatisfeitos com a lentidão. A percepção, claro, não reflete o que é visto diariamente nos tribunais do país, com causas arrastando-se por anos e anos até chegarem aos tribunais superiores. Castro explica que não houve distinção entre o tipo de ação nas quais as pessoas estavam ou estiveram envolvidas. Dessa forma, se a maioria das pessoas entrevistadas teve experiência de Judiciário nos juizados especiais, tratando de causas pequenas, de fato teriam uma boa avaliação das cortes. "Há vários níveis dentro da Justiça", esclarece o professor. Os entrevistados ainda demonstraram desconhecer a estrutura da Justiça. Só 18,7% das pessoas sabem qual é o órgão mais alto do Judiciário, o Supremo. Curiosamente, 67% das pessoas acreditam que os árbitros de futebol fazem parte do Poder Judiciário. O recém-criado Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostrou-se avalizado pela maioria esmagadora da população. Pouco mais de 86% das pessoas acreditam haver a necessidade da existência de um órgão para fiscalizar a Justiça e 67,2% acreditam que deveria haver integrantes externos ao Judiciário nesses órgãos.