Título: Empresários apóiam CPI mas temem paralisia
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2005, Política, p. A10

Preocupa os empresários a possibilidade de a instalação da CPI para apurar denúncia de corrupção nos Correios atrapalhar a agenda legislativa do Congresso, como a votação da segunda parte da reforma tributária. Ainda assim, eles avaliam que o caso precisa realmente ser investigado. Os empresários foram ouvidos pelo Valor durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), realizada ontem, no Palácio do Planalto. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado federal Armando Monteiro (PTB-PE), assinou o requerimento para criação da comissão, mas reconheceu que o processo de investigação acaba por desviar a atenção do Congresso de uma pauta positiva. "Mas diante dos fatos colocados publicamente, e são fatos graves, qualquer instrumento de apuração merece meu apoio", afirmou. Monteiro é do mesmo partido do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), acusado de comandar um esquema para cobrar propina nos Correios. O presidente da CNI defendeu a CPI mesmo avaliando que o Legislativo já vive um momento de paralisia, sem uma agenda legislativa clara e com dificuldades na relação com Executivo. O presidente do Grupo Gerdau, Jorge Gerdau Johannpeter , ressaltou que o cenário é sempre preocupante quando os assuntos políticos predominam sobre a agenda econômica: "Pode existir a necessidade de se fazer uma CPI, mas convém trabalhar com atenção para não prejudicar a agenda positiva". O presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, observou que a abertura de uma CPI sempre atrapalha a agenda positiva do Congresso. Ressaltou, no entanto, que o caso precisa ser investigado já que o próprio deputado envolvido nas denúncias, Roberto Jefferson, assinou o requerimento para a instalação da comissão: "É o Legislativo que precisa olhar o que tem de fazer, mas é preciso reduzir o nível de corrupção. Tudo que atrapalha a velocidade do Congresso é ruim, mas se é preciso fazer que se faça". O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, preferiu não entrar no mérito da questão. "Não tenho detalhes suficientes para dizer se é preciso ter CPI ou não. Se o Congresso achar que deve, que seja instalada a comissão", ressaltou o presidente da Fiesp. "Mas tenho comigo que quando há dúvidas, elas precisam ser esclarecidas." A CPI já tem assinaturas suficientes para ser instalada. No Senado, a oposição conseguiu 44 assinaturas - eram necessárias 27. Na Câmara, 223 parlamentares assinaram quando se precisava de 171 autógrafos.