Título: Mercadante e Renan acirram divergências sobre rumos da crise
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2005, Política, p. A10

Um bate-boca em encontro social entre o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), expôs a extensão da crise nas relações do Congresso com o Executivo. Mercadante atribuiu as dificuldades a uma suposta "orquestração das elites nacionais" contra o governo. Renan rebateu dizendo que não via dessa forma, pelo contrário, julgava haver "reconhecimento da capacidade eleitoral" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas que havia um problema político na condução da coalizão governamental. A conversa teria acabado em palavrões, versões que os contendores trataram de refutar no dia de ontem, inclusive o anfitrião do jantar, senador Luiz Otávio (PMDB-PA). O fato é que Renan a cada dia sente-se mais e mais empurrado para a oposição, está aborrecido com as iniciativas de Mercadante e desconfiado de atitudes de governo que supõe terem a intenção de desmoralizar o Congresso. É nesse contexto, por exemplo, que o presidente do Senado situa o veto - e a forma como ele foi explicado à opinião pública - do reajuste de 15% aos servidores do Legislativo. O episódio deixou Renan especialmente agastado com Mercadante, pois o líder do governo - que participara do acordo para a votação do aumento - tomou a dianteira das críticas e exibiu números com os quais não concorda, como o de que o gasto com a folha, no Senado, alcançaria mais de R$ 550 milhões. Outras manifestações do governo, procurando carimbar os partidos da coalizão como fisiológicos, enquanto isentam o PT, são enquadradas na mesma perspectiva. A derrubada do nome do constitucionalista Alexandre Moraes para o Conselho Nacional de Justiça é outro elemento da crise. Pela manhã, Lula reuniu-se com os líderes dos partidos na Câmara, inclusive os da oposição, numa tentativa de amenizar o clima nas relações com o Congresso. No fim da tarde, Mercadante comandava a rejeição ao nome do ex-secretário do governador tucano Geraldo Alckmin. Criou um problema não só com a oposição, com a qual acertara a aprovação de Moraes, como jogou a Câmara - responsável pela indicação - contra o Senado. Na mesma reunião com os líderes partidários, Lula tratou da reforma política, considerada indispensável para fortalecer os partidos. À noite, o presidente se reuniu com cinco governadores de Estado com o objetivo de cooptá-los para agremiações da base aliada do governo. Renan tem evitado se manifestar sobre a crise por entender que não é mais o líder da bancada do PMDB, é presidente do Senado e precisa preservar a instituição. Mas está cada dia mais convencido que o "problema é a relação que não se refaz, só se deteriora". Para o senador por Alagoas, a coalizão, no Brasil, em vez de programáticas são assentadas num tripé: ocupação de espaço, influência para fazer investimentos nos municípios (emendas ao Orçamento) e as eleições. Sem um equilíbrio entre os partidos, em relação a espaço e emendas, se inviabiliza a coalizão eleitoral. Um termo permeia essas conversas no Senado, mas raramente é dito com todas as letras: "Chavismo". Ontem, o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), dizia: "O governo tem obrigação de encaminhar soluções democráticas para a crise, e não apostar no agravamento delas, sob nenhum pretexto". Para Freire, foi isso o que Mercadante fez ao comandar a rejeição ao nome de Alexandre Moraes. (RC)