Título: Analistas prevêem continuidade do aperto monetário
Autor: Luiz Sérgio Guimarães e Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2004, Finanças, p. C-1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deverá aumentar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, de 16,25% para 16,50%, em sua reunião mensal de dois dias que termina na quarta-feira. Mais do que um consenso, trata-se de uma certeza do mercado. Embora alguns analistas admitam que o BC poderia interromper o ciclo de aperto monetário iniciado em setembro e outros, no lado oposto, defendam atuação mais agressiva, na hora de cravar uma aposta seca na decisão mais provável a escolha é pela alta de 0,25 ponto, sem viés. Esta opção foi a preferida por mais de 90% dos analistas ouvidos pelo Valor em pesquisa feita na sexta-feira. O economista da consultoria Global Invest, Alex Agostini, acredita que o Copom, coerente com suas sinalizações, irá elevar o juro em 0,25 ponto, mas essa nova alta não se mostra necessária. Há mais ônus decorrente do reaperto monetário do que benefícios. Como não há crescimento de renda e emprego capaz de sancionar uma inflação de demanda, o risco inflacionário não requer, pelo menos nesse momento, altas adicionais da Selic. Enquanto a economia já consolidou o seu crescimento, o emprego e a renda ainda estão vacilantes. O juro deveria permanecer estável até que ambos também se consolidassem em um degrau mais elevado. Só então, lá para o final do primeiro trimestre de 2005, o BC deveria pensar em subir o juro. Com o emprego e a renda sedimentados, o BC poderia até elevar a Selic em percentuais maiores. Não agora. O ônus do aperto imediato é duplo: inibição irreversível de investimentos produtivos e encarecimento da dívida pública. O consultor Marcelo de Ávila, da Global Station, concorda que não seria necessária nova alta da Selic, já que a inflação corrente dá sinais de debilidade. E elevação do juro para 16,50%, além de tornar mais cara a rolagem da dívida pública, poderá assustar ainda mais os empresários que começaram a desengavetar planos de investimento na virada do semestre. Já o consultor Miguel Daoud, da Global Financial Adviser, diz que não há opção do BC além da alta do juro. "O BC está encapsulado, a sua única arma contra a inflação é o juro alto. A inflação deveria ser encarada como um problema de governo, e não exclusivamente do BC", diz Daoud.

Para o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, a desaceleração inflacionária constatada em setembro foi pontual. "Por um lado permanecem presentes os motivos que levaram ao início da estratégia de aumento gradual; por outro, os resultados da inflação e os dados de investimento nos levam a descartar um aumento maior", diz Barros, cujo prognóstico é de alta da Selic de 0,25 ponto. Na sua análise, a maior parte das variáveis presentes no cenário externo são ou favoráveis ou neutras em relação à política monetária brasileira. Com exceção do petróleo, que acumulou alta de 23% desde a reunião de setembro do Copom, os demais pontos não exercem pressão. "As taxas de juros nos EUA apresentaram mais uma pequena queda em relação à taxa que vigorava na reunião de setembro. A melhora no risco-Brasil foi apenas marginal e, portanto, não deve influenciar a avaliação do cenário feita pelos membros do Copom. E a taxa de câmbio, bastante influenciada pelo risco-país, permaneceu entre R$ 2,85 e R$ 2,90", diz Barros. O economista do Banif Investment Banking, Alberto de Oliveira, concorda que o "petróleo continua sendo o grande fator de risco, pois, além de propiciar desaquecimento da economia mundial, pode provocar inflação nas economias centrais". E lembra que o risco maior reside num subproduto da inflação: o aumento da aversão ao risco a países emergentes. Se isto ocorrer, países como o Brasil deverão sofrer forte volatilidade. Mas, para ele, os níveis de emprego e renda não apontam riscos de inflação de demanda iminente. A inflação de setembro, abaixo das expectativas do mercado, tornará dispensável uma alta maior da Selic na reunião de quarta-feira, na opinião dos economistas do Banco Pátria. Tanto que revisaram seu prognóstico de alta de meio ponto para 0,25 ponto depois da série de índices mostrando a perda de força da inflação. Mas a economista da instituição, Renata Heinemann, diz que a inflação não autoriza o BC a interromper o aperto monetário iniciado no mês passado. "Nossa previsão é de que esse ciclo irá adentrar o ano que vem", afirma Renata. O diretor do Modal Asset, Alexandre Póvoa, lembra que a ata do último Copom sinalizou que o BC será "menos tolerante", com os efeitos de choques. E hoje está ocorrendo um choque de conseqüências ainda imprevisíveis, o do petróleo. "Não me surpreenderia se o Copom elevasse o juro em meio ponto", diz Póvoa. O economista Marcelo Ribeiro, da distribuidora Pentágono, acredita que a queda verificada na semana passada no preço das commodities metálicas terá influencia na decisão do Copom. "A queda do preço das commodities reduz as pressões inflacionárias no curto prazo, mas, em compensação, eleva a perspectiva de inflação futura na medida em que a menor cotação das commodities significa menos divisas para os países emergentes, o que enfraquece as moedas locais, pressionando os índices de preços", diz ele. O economista-sênior para a América Latina do Dresdner Kleinworth Wasserstein (DrKW), Nuno Camara, por sua vez, acredita num aumento de 0,5 ponto. Para ele, a combinação de um forte crescimento com a disparada dos preços do petróleo recomenda cautela ao Copom. Camara diz que, nesse cenário, aumentam os riscos de repasse dos aumentos do atacado para o varejo. "É mais indicado o BC ser mais conservador agora do que ter de fazer um aperto mais forte no futuro", acredita ele. Além disso, Camara avalia que um aumento de 0,5 ponto empurraria as projeções de juros para cima, o que seria desejável num momento em que o BC quer produzir algum desaquecimento do ritmo de atividade econômica, para equilibrar oferta e demanda. Já uma elevação de 0,25 ponto tenderia a não provocar esse impacto. Uma alta de meio ponto também poderia ser mais eficiente para tentar controlar as expectativas de inflação dos analistas para 2005, que estão em 5,81%, segundo a pesquisa semanal do BC, acima do centro da meta ajustada, de 5,1%.