Título: Mercado projeta petróleo a US$ 40 até o fim do ano
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2005, Empresas &, p. B1

Depois da escalada de preços dos últimos 12 meses - que levou o preço do barril do petróleo a se manter acima de US$ 40 Há quase um ano e alcançando picos superior a US$ 50 em duas ocasiões - o mercado já sinaliza que a commodity possa se estabilizar em patamares menores, na faixa dos US$ 40, A opinião de analistas e especialistas é que isso ocorra até o fim deste ano. Eis os fatores importantes que listam: a desaceleração econômica mundial, a formação de estoques na Ásia (região que apresenta o maior ritmo de consumo) e o "desafogo" entre oferta e demanda, que já puxa os preços - ainda timidamente - para baixo. A partir de 2006, se esses fatores permanecerem inalterados, a cotação poderá seguir para patamares próximos de US$ 35 e se sustentar assim até dezembro. Para Jean Paul Prates, sócio da consultoria Expetro, o cenário mostra indicações de que as pressões altistas chegam ao fim, depois de três anos de mercado superaquecido com a agressiva demanda no Sudeste asiático pelo combustível. Para o analista, o consumo na região passa por um "crescimento educado", com direito a formação de estoques de médio prazo, sobretudo na China. Nas projeções do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), a média de preços do petróleo Brent no segundo trimestre ficará em US$ 48, repetindo o preço médio dos três primeiros meses do ano. Em setembro, a média cairia para US$ 45 e em dezembro US$ 39. Adriano Pires, diretor do CBIE, diz que os cálculos levam em consideração estimativas de crescimento de consumo mundial de 2,2% neste ano (contra os 3,5% observados em 2004), feitas pelo Energy Information Administration (EIA), órgão do governo dos Estados Unidos. O estudo aponta também aumento da margem entre oferta e demanda pela commodity. No final de 2004, a produção diária era de 83 milhões de barris, para um consumo de 82 milhões. Para 2005, a oferta passa para 85 milhões, enquanto a demanda deverá ficar em cerca de 83,5 milhões. Para os analistas, entretanto, até lá o cenário de mercado permanecerá volátil, ainda cético quanto à regularização da oferta nas refinarias do Iraque, Rússia, Venezuela e de outros países produtores envolvidos em turbulências políticas e com problemas empresariais (caso Yukos, na Rússia). Ontem, a cotação do petróleo do tipo Brent (negociado na International Petroleum Exchange, de Londres-IPE), fechou a US$ 47,88, uma leve queda em relação ao dia anterior. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o tipo WTI também fechou em ligeira queda, abaixo de US$ 47. É a segunda queda consecutiva da semana, reflexo do relatório divulgado pelo EIA sobre o comportamento dos estoques no país Segundo a agência, os EUA, maior consumidor mundial, mantêm estocados 330 milhões de barris. É o maior nível desde meados de 1999 e 4 milhões de barris a mais em relação à última medição, na semana anterior. Nem a intenção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em reduzir a produção da commodity surtiu efeito nos preços. Tal cenário é bem diferente do observado há cerca de um mês. Acompanhado por um feroz movimento especulativo e por temores de que faltaria petróleo no verão no Hemisfério Norte, a cotação do WTI beirou os US$ 58 o barril. Em outubro do ano passado, com preocupação sobre o nível de estoques para o inverno, o preço saltou para faixa de US$ 50. A queda dos preços internacionais, aliada ao dólar baixo, poderá ser benéfica para a Petrobras, disse Pires, da CBIE. Atualmente, os preços dos combustíveis da estatal estão alinhados com a média mundial. Mas caso o preço do petróleo recue, a Petrobras passaria a aplicar no mercado preços mais caros que os dos demais produtores. Caso esse cenário se concretize, há duas alternativas para a estatal. A primeira é manter os preços dos combustíveis e aumentar suas receitas neste ano, ajudando na formação do superávit primário. A outra é baixar os preços, acompanhando a cotação internacional - atitude que poderá ser tomada ainda neste ano.