Título: Economistas apontam alternativas ao juro alto
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2005, Finanças, p. C1
Quais são as alternativas ao aumento da taxa de juros? A redução dos gastos do governo parece ser uma unanimidade entre economistas, executivos, banqueiros e empresários como receita para baixar a inflação e poupar a sociedade dos juros estratosféricos impostos pela política monetária do Banco Central. Há um consenso de que a insistente elevação da taxa de juros básica não está ajudando o BC a encontrar seu objetivo (a meta de inflação de 5,1% este ano e de 4,5% no ano que vem), porque acaba neutraliza pela enorme quantidade de dinheiro que o próprio governo injeta na economia com seus gastos. E ainda há o efeito colateral negativo da sobrevalorização da moeda e o desestímulo aos investimentos privados. Em recente estudo intitulado "Políticas Não-Monetárias de Controle da Inflação - Uma Proposta Keynesiana", o professor adjunto do Instituto de Economia da UFRJ, João Sicsú, recorda que a teoria econômica não recomenda o uso dos juros altos como instrumento de combate à inflação porque "na maioria dos casos (a inflação) é um problema do lado da oferta, e a taxa de juros incide sobre o lado da demanda". Sicsú identifica sete tipos de inflação e afirma, em seu "paper", que apenas a inflação que leva o nome "de demanda", obviamente, não é de custos. Todas as outras têm origem na oferta. "Qualquer inflação que ocorre em situação em que a economia está aquém do pleno emprego, é um problema do lado da oferta." Embora o governo sustente que fez um ajuste de gastos em 2003 e elevou o superávit primário, para o economista Joel Bogdanski, é preciso ampliar os cortes de custeio e investimentos e o superávit, hoje em 4,25% do PIB. Bogdanski foi um dos economistas que ajudou a implantar o regime de metas de inflação no Brasil, em 1999. Funcionário de carreira do Banco Central (entrou por concurso em 1992), deixou o serviço público em 2002 para trabalhar no Banco Itaú, com o economista Sergio Werlang, diretor executivo da instituição. Além do corte de despesas, ele sugere duas outras medidas: a revisão dos contratos de concessão de serviços públicos (os chamados preços administrados) e a oficialização da independência do BC. Bogdanski lembra que, em 1999, quando o regime de metas de inflação entrou em vigor, os preços administrados tinham peso equivalente a 18% no IPCA, o indicador usado pelo BC como parâmetro da meta. Hoje esses preços representam perto de 30% do IPCA. "Há alguma coisa errada com esses contratos. Não é possível que você tenha um setor com reajuste de 10% todo ano durante seis anos, isso não existe em nenhum lugar do mundo", afirma o economista. E sustenta: "É preciso que as agências reguladoras façam um estudo sério sobre o que está acontecendo e propor uma revisão", sugere, frisando que não está propondo uma quebra unilateral, mas sim uma "reavaliação criteriosa". Já o economista Marcelo Allain, professor do curso de MBA da Fipe/USP, não acredita no sucesso de uma revisão dos contratos. "As empresas podem entrar na Justiça (contra a revisão), ganhar e será um preço que vamos acabar pagando lá na frente", afirma. Allain defende maior flexibilidade com o regime de metas. "Acho que o governo tem que ter maior tolerância com a inflação. Não é o caso de rever a meta, mas aceitar que a inflação fique concentrada no 'teto', porque subir os juros não está resolvendo", afirma o economista da Fipe/USP. Allain frisa que não é a favor de deixar a inflação subir indefinidamente, mas que a insistência do BC com um instrumento que não tem dado resultado pode já estar minando a credibilidade do sistema e da instituição. "Não adianta o BC escrever atas e fazer discursos focando em 5,1%, porque todo mundo vê como irrealista." A questão da credibilidade também é uma preocupação de Bogdanski, do Itaú, mas por outro ponto de vista. Segundo ele, é fundamental que o BC ganhe oficialmente sua independência, para que possa tomar as decisões necessárias e corrigir os desvios da economia no momento certo. Ambos os economistas citaram ainda a desoneração de impostos em produtos importados e seus similares nacionais, desde que estejam na base das cadeias produtivas (como aço e petroquímicos) como boas ações de controle de preços, bem como uma aceleração das reformas microeconômicas, que tornem a economia mais eficiente.