Título: Lula sugere a líderes que a PF investiga melhor
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2005, Política, p. A5
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, durante café da manhã com todos os líderes da Câmara e com a diretoria da Casa, que a Polícia Federal é um órgão sério, respeitável e zelosa na divulgação dos resultados de investigações, no que foi interpretado por alguns líderes como uma crítica velada à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai apurar supostos casos de corrupção no governo. "Não podemos condenar ninguém por antecipação". A avaliação geral de todos os presentes ao encontro, no Palácio do Planalto, é que o presidente quis criar novos canais de comunicação com a Câmara. "Foi uma reunião institucional, nenhum assunto foi aprofundado", afirmou o líder do PSB, Renato Casagrande (ES). Lula sequer tentou fechar uma pauta de votações para a Câmara - proposta já rechaçada de véspera pela oposição, que via na provável tentativa de se definir projetos prioritários uma forma de intervenção do Executivo no Legislativo. O presidente da República apenas citou três projetos que considera prioritários: a reforma tributária, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e o projeto da Pré-empresa, proposta que cria facilidades para que atividades que gerem receita anual de até R$ 36 mil sejam legalizadas. Mas Severino Cavalcanti (PP-PE), presidente da Câmara, ao sair do café da manhã, marcou uma reunião de líderes, para ontem à noite, com o objetivo de definir votações e conseguiu fechar um acordo que atende aos pedidos do Planalto: a reforma tributária só será analisada no próximo semestre, o que abre espaço para a análise das sete medidas provisórias (MPs) que trancam a pauta de votações. Hoje ainda duas ou três MPs devem ser votadas, o que deve permitir que na próxima semana a Câmara também vote a regulamentação para o referendo do Estatuto do Desarmamento, previsto para outubro. "Esse avanço é resultado direto das reuniões de Lula com Severino, com a base e com todos so líderes", afirmou Casagrande. Lula também falou de eleições. Disse, em tom de reclamação, que é comum que as oposições tentem antecipar o jogo sucessório. Lula também firmou posição contra a verticalização, ou seja, se mostrou favorável ao projeto que libera os partidos de seguirem nas eleições estaduais as coligações fechadas para a eleição presidencial. "Não quero o apoio de ninguém obrigado, não quero sofrer uma derrota como a de Ulysses (Guimarães), que tinha muito apoio no papel mas que acabou sozinho", afirmou o presidente. Lula também disse que vive os mesmos problemas econômicos de seu antecessor. "A questão dos juros foi um problema para Fernando Henrique e está sendo um problema para mim também", disse. Diante dos líderes da base e da oposição, Lula preferiu jogar a "herança maldita" para o governo Sarney. "Em economia, bravatas não dão certo, até hoje estamos pagando pelo plano Cruzado", disse. A essa altura do encontro - que durou cerca de três horas -, Lula ouviu uma contundente crítica do líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP): "Temos que fazer a reforma política, enquanto vivermos neste ambiente nenhum governo estará livre de graves casos de corrupção", disse. O primeiro vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), defendeu de forma veemente a realização da CPI. "Estamos vivendo um momento muito grave de descrédito no parlamento, temos que fazer a CPI para nossa própria dignidade, o atual momento somente se assemelha ao período pré-Constituinte de 1988, quando 70% do Parlamento foi renovado", disse.