Título: CPI é protocolada com 69 nomes a mais
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2005, Política, p. A5

Apesar de uma ofensiva de última hora do Palácio do Planalto para tentar retirar as assinaturas de aliados, PSDB e PFL protocolaram ontem o requerimento que propõe a criação de Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para apurar corrupção nos Correios. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que fará "o necessário para agilizar" a instalação, mas o governo avalia que ainda dispõe de margem de manobra para tentar barrar ou - se isso for impossível - fazer a maioria, eleger o presidente ou o relator e controlar os trabalhos da CPI Mista, a exemplo do que fez na CPI do Banestado. A retirada das assinaturas, a manobra mais rápida e prática, é difícil. No Senado, a oposição conseguiu 44 assinaturas. Eram necessárias apenas 27. Na Câmara, 223 deputados assinaram. Eram precisos 171 autógrafos. Na base de apoio do governo, 19 assinaturas foram do PT, seis do PSB, cinco do PL e cinco do PCdoB. O PTB, partido do deputado Roberto Jefferson (RJ), envolvido na denúncia de corrupção nos Correios, contribuiu com 12 assinaturas. No PMDB, sigla que detém o comando do Ministério das Comunicações, ao qual os Correios estão subordinados 29 deputados assinaram. No Planalto, a primeira reação à CPI partiu do ministro da Casa Civil, José Dirceu, que orientou o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a procurar os líderes aliados e tentar que eles fizessem cada bancada retirar as assinaturas. Não deu certo. Um único deputado atendeu ao apelo do líder: Vicentinho (PT-SP). A oposição assegura dispor de "estoque regulador" para repor eventuais assinaturas retiradas. Depois que o requerimento foi protocolado, pelo menos outros dois deputados assinaram a lista. O Planalto evitou pressionar diretamente os deputados para não ser surpreendido por indiscrições. Como avalia que a CPI não será instalada até semana que vem, pretende usar os próximos dias para desencadear nova ofensiva pela retirada das assinaturas. A idéia é tentar que os partidos façam a retirada coletivamente. Está claro para os articuladores do governo que o PC do B não retira, se o PT também não retirar, e assim por diante. Se isso também não der certo, o passo seguinte será tentar controlar a CPI. Numa reunião da bancada do PT, na noite de terça-feira, foi mencionado o nome do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) para presidente ou relator da comissão. Um dos presentes comentou que Cardozo não podia porque assinara o requerimento. Na realidade, o deputado paulista não havia assinado. Apenas prometera assinar. Continua cotado. O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), disse que o objetivo da CPI não é o de atingir o governo Lula, mas "se atingir o ministro José Dirceu, paciência". No roteiro dos líderes da oposição está a quebra do sigilo telefônico e bancário dos diretores dos Correios atingidos pela denúncia e do dono da Novadata, Mauro Dutra, que é amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esperam encontrar ligações para o Palácio do Planalto e até mesmo para a sede do PT, que é o que mais temem os líderes do partido de Lula. Nessa hipótese, a CPI já teria deixado de ser exclusivamente sobre corrupção nos Correios. O Planalto e o PT contam com a apreensão que se instalou nos partidos, a partir das insinuações de Roberto Jefferson sobre o envolvimento do PMDB. Nas fitas divulgadas, aparecem lateralmente os nomes de Ney Suassuna (PB), Renan Calheiros e do ministro Eunício Oliveira. Todos os partidos aliados têm indicados nos principais postos das estatais. "Não sinto desconforto algum. Peguei o telefone e liguei. Somos homens públicos e fazemos isso todos os dias", disse o líder do PMDB, Ney Suassuna, sobre o fato de ter intermediado o encontro de diretores de uma empresa com Roberto Jefferson, para tratar de uma licitação anulada dos Correios. As assinaturas do requerimento estão sendo conferidas pelas Mesas da Câmara e do Senado. Quando receber o pedido, Renan, que preside o Congresso, vai falar com Severino Cavalcanti (PP-PE) antes de convocar sessão do Congresso para ler o requerimento. Depois pedirá a indicação dos líderes. "Falei com os líderes e senti a disposição de indicar", disse Renan.