Título: FMI adia o pagamento de US$ 2,5 bi da dívida do país
Autor: olin Barraclough
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2005, Especial, p. A10

A diretoria do Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou ontem a extensão por um ano de US$ 2,5 bilhões devidos pela Argentina até 28 de abril do ano que vem. Os últimos vencimentos passam a ser em abril de 2007. No total, são 22 vencimentos adiados por 12 meses. Essa foi a terceira vez desde 2001 que a Argentina conseguiu adiar pagamentos- mas dessa vez o volume atingido foi maior. Num comunicado divulgado ontem à tarde, a nota do Fundo Monetário afirma que o adiamento não significa aprovação do organismo ao programa econômico argentino. Embora não tenha dado uma aprovação direta à operação de troca de dívida pública, na prática o FMI libera recursos externos para que sejam iniciados os pagamentos da dívida em moratória na renegociação com os credores. Na semana passada a Argentina venceu uma batalha num tribunal em Nova York contra investidores que haviam conseguido liminares para bloquear o lançamento de títulos do país. Todos os pagamentos não obrigatórios ao FMI (expectativas de pagamento, no jargão do Fundo) foram estendidos por um ano. O adiamento dá uma folga no fluxo de caixa da Argentina até o início do ano que vem, mas resultará num acúmulo de dívida com o organismo oficial vencendo em 2006. Entre abril e dezembro do ano que vem, vencerão 3,9 bilhões de SDR (moeda usada pelo FMI), ou cerca de US$ 5,86 bilhões. Teoricamente esse volume será acumulado com o pagamento devido aos credores privados (ou seja, se a Argentina não pedir adiamento de novo no ano que vem). A Argentina deve ao FMI US$ 14 bilhões. O critério para extensão de pagamentos, segundo o FMI, é avaliar a posição externa do país e suas possibilidades de pagamento antecipado dos recursos. "A decisão de extensão do prazo de pagamento é tomada com base nas considerações técnicas e não numa avaliação do programa econômico do governo", diz a nota. "Muitos diretores executivos estão esperando a oportunidade de discutir as políticas econômicas da Argentina no contexto das consultas do artigo IV". As consultas são feitas anualmente para avaliar o estado das economias, mesmo que o país não tenha crédito com o Fundo. Até agora não houve uma aprovação explícita do FMI ao resultado da troca da dívida pública em moratória, e a revisão do acordo atual com o fundo está suspensa. Já está claro que países como Itália e Alemanha votarão contra a ratificação da troca de dívida completada pelo país, que fixou a perda dos investidores em cerca de 75%. O problema é que a Argentina precisará de mais recursos oficiais para conseguir pagar as dívidas no ano que vem, e isso só poderá ser feito com novo acordo com o órgão internacional. Para receber mais recursos, a diretoria do FMI tem que avaliar que o país não está em atraso com credores privados, ou seja, que a troca completada em fevereiro resolveu o problema. A alta adesão à troca, de cerca de 76%, deixou de fora pequenos investidores no varejo europeu.