Título: Nona alta desagrada mercado
Autor: Alex Ribeiro e Claudia Safatle
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2005, Finanças, p. C1

A nona alta seguida da taxa Selic não foi recebida com surpresa pelos analistas. Mesmo assim desagradou, já que prevaleceu ontem nos mercados um viés otimista, uma esperança de que o Copom pudesse interromper o aperto iniciado em setembro. As entidades representativas dos empresárias subiram o tom de suas críticas à intransigência do BC. O diretor do Modal Asset, Alexandre Póvoa, acredita que as altas de 0,25 ponto percentual determinadas pelo Copom em suas duas últimas reuniões são meramente simbólicas. Visam indicar que o BC não abandonou a meta ajustada de inflação para este ano, de 5,1%. "Foi uma decisão coerente com discursos e atas", diz o economista. O BC mostra-se ainda preocupado com a possibilidade de o IPCA elevado de curto prazo vir a contaminar negativamente as expectativas de inflação. Mas o ganho que o BC pode ter com as elevações homeopáticas de juros são marginais, muito menores do que os riscos que está correndo. Além de encarecer a dívida pública - pelos cálculos de Póvoa, cada alta de 0,25 ponto tem impacto global de R$ 2,5 bilhões anuais na rolagem da dívida -, a insistência no aperto monetário poderá provocar um desaquecimento mais acentuado da atividade econômica que o esperado pelo próprio BC. E ainda no segundo semestre do ano. Pela análise do economista, o BC só irá interromper o aperto monetário quando o IPCA mostrar nítidos sinais de arrefecimento e quando surgirem números ruins sobre a atividade. Para ele, a manutenção do mesmo comunicado pós-Copom das últimas reuniões guarda coerência interna com a decisão em si, já que elevar o juro em 0,25 ponto e, ao mesmo tempo, sinalizar que o aperto acabou implica pagar mais nos títulos da dívida sem auferir eventuais benefícios antiinflacionários da alta. Isso porque o comunicado poderia provocar um declínio dos juros futuros, tornando sem efeito a alta. Para o consultor Miguel Daoud, da Global Financial Advisor, a área econômica do governo comete um "pecado capital" na condução do combate à inflação: faz, ao mesmo tempo, festa no andar térreo e velório no 1º andar. "Por um lado, incentiva o crédito para o consumo e aumenta seus gastos com custeio. Por outro, o BC eleva a taxa de juros para debelar a inflação, cuja causa não é sensível a esse remédio", diz o consultor. A política antiinflação é, na sua opinião, "míope", pois não consegue vislumbrar alternativas às altas taxas de juros. "Esta inflação é comparável ao monstro de várias cabeças, mas apenas uma delas é atacada pelo BC mediante a elevação dos juros. As outras, também agressivas, permanecem intactas", compara. "É uma desgraça para o país ", desabafou Boris Tabacof, diretor do departamento de economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) em nota à imprensa. "A atitude só seria aceitável, mas não justificável, se o objetivo de conter a inflação dentro da meta estivesse sendo atingido", destacou. "A verdade é que a atual política vem se mostrando inócua." Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), também condenou a "insistência" do BC em usar o juro como "único instrumento" para controle da inflação. "Em breve poderemos ter reversão para decrescimento econômico", diz em nota. O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, foi outro a desaprovar o nono aumento dos juros. "A desastrada decisão do Copom compromete todo o segundo semestre deste ano", destaca em nota à imprensa. Ele qualificou o governo como "paralisado".