Título: BC decide elevar ainda mais o juro
Autor: Alex Ribeiro e Claudia Safatle
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2005, Finanças, p. C1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou ontem mais uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, que passa para 19,75% ao ano. Desde setembro de 2004, a meta da taxa Selic acumula um aumento total de 3,75 pontos percentuais, em nove reuniões seguidas. O breve comunicado divulgado após a reunião não dá pistas sobre os próximos passos do BC. A nota é quase uma reprodução das anteriores: "Dando prosseguimento ao processo de ajusto da taxa de juros básica iniciado na reunião de setembro de 2004, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 19,75% ao ano, sem viés". Maiores detalhes serão conhecidos apenas na sexta-feira da semana que vem, com a divulgação da ata do encontro de ontem. Em seus últimos documentos oficiais, porém, o BC deu sinais explícitos de que o que preocupa é a alta inflação corrente e a contínua deterioração das expectativas de inflação do mercado financeiro. No seu discurso oficial, o BC vem se mostrando tranqüilo sobre a trajetória de inflação em prazos mais longos, de 12 meses ou mais. Os índices projetados em seus modelos, até abril, indicavam que os índices de preços convergiriam para a trajetória das metas entre o segundo e o terceiro trimestres de 2006. Esse é um sinal de que os juros no nível atual serão suficientes para reequilibrar a oferta e a demanda agregadas da economia. Mas os sinais da inflação de curto prazo não são animadores. O IPCA de abril, divulgado há uma semana, ficou em 0,87%, ante 0,61% em março. Pior: o componente do índice que mais subiu foi o de preços livres, que passou de 0,34% para 0,76%. O índice de difusão, que mede o número itens que tiveram aumento se expandiu, de 63,9% para 67,2%. Os núcleos se aceleraram, ficando entre 0,7% e 0,71%, patamar incompatível com a meta ajustada de 5,1% deste ano. Para completar, entre as reuniões do Copom de abril e maio, o mercado elevou de 6,1% para 6,39% a sua projeção para ao IPCA de 2005. Mesmo pesando o fato de que toda essa piora se deu em prazos mais curtos - períodos em as decisões sobre juros têm poucos efeitos para controlar a inflação -, o BC vem repetindo que o quadro nebuloso prejudica a coordenação das expectativas para 2006 e torna mais incertos os exercícios de projeção pela própria autoridade monetária. Nesse contexto, prefere uma postura mais austera para sinalizar que não irá tolerar o desvio da inflação da trajetória de metas. Dada a resistência da inflação a uma queda mais rápida, mesmo com a elevação sistemática da taxa de juros, a tendência do governo, para o médio prazo, é buscar mais lentamente a trajetória declinante em direção à meta de longo prazo, estabelecida em exposição de motivos de 2003, em 4%. Nesse sentido, embora não haja ainda uma decisão, a propensão da área econômica é de confirmar a meta para a inflação de 2006 em 4,5% e repetir esse mesmo percentual como meta para 2007. Essa proposta, que será submetida ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, antes da reunião de junho do Conselho Monetário Nacional (CMN), teria duas vantagens: não passaria a impressão de complacência com o processo inflacionário, mas também não compraria uma briga política com os que consideram ambiciosa a meta de 4,5% do IPCA para 2006. Seria apenas o reconhecimento de que, no Brasil, a luta contra a inflação é uma tarefa mais árdua e demorada do que se gostaria. A partir do próximo ano, a margem de tolerância, que hoje é de 2,5 pontos percentuais, cai para 2 pontos percentuais. O que significa que o teto da inflação, medida pela variação do IPCA, para 2006 e 2007 seria de 6,5%.