Título: ¿Uniforme¿ de candidato traz algumas limitações
Autor: Iunes, Ivan; Abreu, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 03/04/2010, Política, p. 4

eleições

Distantes da máquina pública, Dilma e Serra renovam estratégias para obter visibilidade

A pré-campanha eleitoral ganhará novos contornos a partir de segunda-feira, quando Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) vestirão oficialmente o uniforme de candidatos. Se as últimas semanas à frente da Casa Civil e do governo de São Paulo foram marcadas por inaugurações reais, a distância e até de obras inacabadas, a desincompatibilização retira dos dois o palanque disfarçado à Presidência da República. A previsão de especialistas é de que a estratégia eleitoral de ambos continue flertando com o desrespeito à legislação, que só permite campanhas a partir de julho. O PT avalia até a possibilidade de Dilma continuar participando de inaugurações ao lado do presidente Lula. Nos quase três meses que antecedem a campanha, o caminho provável é que os dois corram para costurar as últimas alianças. Mesmo fora dos cargos, devem percorrer o país sem dispensar a roupa de candidato. Um e outro terão espaços significativos na televisão. Petistas e tucanos têm programas de dez minutos de duração, em horário nobre, nos dias 13 de maio e 17 de junho, respectivamente. Nos mesmos meses, os dois partidos ainda terão cinco minutos, divididos em inserções de 30 segundos ou um minuto. ¿A eleição de fato já começou, embora a de direito só tenha início em julho. A tendência é de que Dilma e Serra percorram ao máximo o país, na base do corpo a corpo¿, diz Marcus Figueiredo, professor do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj).

Cautela

O fator de desequilíbrio no resultado das eleições, segundo especialistas, pode ser conquistado exatamente durante a pré-campanha. Tanto Serra quanto Dilma concentrarão fichas especiais na conquista do eleitorado feminino, tradicionalmente o último a se definir. No caso de Dilma, os esforços incluem a associação da imagem da ministra da Casa Civil à do governo Lula. Cerca de 42% dos eleitores ainda não sabem que ela é a candidata apoiada pelo Planalto. Por isso, o comando de campanha não descarta a presença da ministra em inaugurações. ¿Existe um parecer da AGU (Advocacia-Geral da União) que permite a ela participar das inaugurações, mas teremos de ter cautela e analisar o custo-benefício de ela aparecer nesses eventos¿, analisa o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Pelo menos em princípio, está descartada uma possível licença do presidente Lula para participar da campanha em tempo integral. A provável estratégia petista inclui eventos com a participação do maior cabo eleitoral de Dilma, mas ele assumiria a condição de militante do partido, do qual é presidente de honra. ¿Lula não está impedido de fazer eventos de militância, já que continua ligado ao partido. O presidente vai cumprir o mandato integralmente até 31 de dezembro, não tirará licença, tudo dentro da lei¿, antecipa Dutra. A pré-campanha dos dois principais candidatos à Presidência passa também pela definição do companheiro de chapa. Enquanto vê cada vez mais longe o sonho de contar com o ex-governador mineiro Aécio Neves (PSDB) para a vice, Serra tenta acomodar o apetite do DEM, aliado que insiste em indicar um nome para o posto. Os senadores José Agripino (DEM-RN) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) já foram cogitados, mas ainda não há um nome forte. Na trincheira petista, Dilma tem a indicação quase certa do presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), para vice, principalmente depois que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, resolveu continuar no cargo.

Afago aos prefeitos

O candidato tucano à Presidência, José Serra, agendou para o próximo sábado, dia 10, a cerimônia de lançamento da pré-campanha. O quartel-general do PSDB planeja atrair pelo menos 500 prefeitos para o evento, que será no Centro de Convenções Brasil XXI, em Brasília, o mesmo palco onde Dilma Rousseff foi aclamada como a opção petista na corrida eleitoral.