Título: Crise tira quatro ministros da viagem presidencial
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2005, Brasil, p. A5

A crise política desfalcou o time de ministros que o presidente Lula planejou levar para a Coréia e o Japão, para onde embarcou ontem. Dos nove ministros confirmados semana passada pelo Itamaraty, apenas cinco viajaram com Lula. Os quatro da lista inicial que ficaram - José Dirceu (Casa Civil), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), Paulo Bernardo (Planejamento) e Eunício Oliveira (Comunicações) - o fizeram para esvaziar a CPI criada pelo Congresso para apurar o recente escândalo de corrupção nos Correios. Os quatro ministros são parlamentares licenciados com forte influência nas bancadas de três partidos da base aliada - PT, PSB e PMDB. Curiosamente, dez anos atrás, quando também visitava a Coréia e o Japão, outro presidente - Fernando Henrique Cardoso - se viu às voltas com a ameaça de instalação de uma CPI que considerava indesejável - a CPI dos Bancos, que não saiu do papel. O que se inverteu foram os papéis: em 1996, quem fez campanha para colocar a CPI para funcionar foi o PT, principal partido da oposição de então, e quem a rejeitou foi o PSDB; hoje, quem quer evitá-la é o PT e quem gostaria de vê-la atuando é o PSDB. Provavelmente, os problemas da política doméstica não afetarão os resultados comerciais e econômicos da viagem de Lula aos dois países orientais. Mas, quando botar os pés hoje à noite em Seul, o presidente sofrerá uma das demandas que mais detesta: ser questionado, em viagens internacionais, sobre questões internas. O cancelamento da vinda de Dirceu, Campos, Bernardo e Eunício frustrará alguns interlocutores de Lula na Coréia e no Japão. O ministro da Casa Civil foi escalado para falar a centenas de empresários sobre infra-estrutura e oportunidades de investimentos nos dois seminários organizados para a visita a esses países. Paulo Bernardo falaria sobre as oportunidades de negócios no âmbito das Parcerias Público-Privadas (PPPs). Eduardo Campos e Eunício Oliveira participariam de encontros sobre tecnologia da informação (TI), área em que o Brasil tem se destacado e onde gostaria de criar perspectivas de negócios na Coréia e no Japão, dois produtores e consumidores vorazes de TI. Há expectativa na Coréia quanto à visita de Lula. O presidente coreano Roh Moo-Hyun tem história política similar à do líder brasileiro. Assim como Lula, veio de uma família pobre. Moo-Hyun também tem enfrentado dificuldades no Congresso, tendo sofrido, inclusive, um impeachment - seu mandato foi reabilitado na Justiça. Em entrevista ao jornal "The Chosun Ilbo", publicada ontem, Lula cometeu uma gafe ao sugerir ao presidente da Coréia do Norte, Kim Jong-il, que, em vez de gastar dinheiro com armas nucleares, invista mais em educação. A questão nuclear é um tema sensível às duas Coréias e tem sido um obstáculo para as negociações em torno da reunificação do país. Além disso, ao contrário de seu antecessor, que, quando esteve na Coréia do Sul, visitou a fronteira que separa as duas nações, Lula não fará nenhum gesto em direção à Coréia do Norte, que, nos últimos anos, vem se aproximando do Brasil - neste momento, os coreanos do Norte já estariam, inclusive, procurando sede para construir embaixada em Brasília. Lula e sua comitiva ficarão em Seul até a manhã de quinta-feira. Nesse dia, viajarão para Tóquio para cumprir visita de três dias. A viagem tem um caráter econômico, diferindo do roteiro político que o Itamaraty vem imprimindo à agenda de Lula no exterior. (CR)