Título: Maioria no Congresso deve ser requalificada, diz Genoino
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2005, Política, p. A7

A denúncia de corrupção nos Correios e a proximidade da instalação de uma CPI para investigar o caso fizeram a direção do PT incorporar críticas internas e colocar em xeque as atuais alianças partidárias, admitindo a necessidade de "requalificação da maioria política no Congresso", como afirmou o presidente da legenda, José Genoino, em encontro ontem no Diretório Nacional. Apesar de ter negado que requalificar signifique reduzir a base aliada, Genoino afirmou que "a maioria no Congresso não precisa mais ser de três quintos". Ela precisa apenas estar "dentro das necessidades da governabilidade". O presidente admitiu que as relações com a base não estão boas e que é preciso ampliar o diálogo, com a ajuda dos petistas que estão na Câmara e no Senado. "Queremos discutir com a base aliada posturas e encaminhamentos do próprio PT para ter uma maioria qualificada, com base na agenda do governo". A agenda deve priorizar programas sociais, reforma política e investimentos em infra-estrutura. Além de Genoino, do Campo Majoritário, que disputa a reeleição, também vão concorrer à presidência nacional Plínio de Arruda Sampaio (Ação Popular Social), Maria do Rosário (Movimento PT), Marcus Sokol (O Trabalho), Raul Pont (Democracia Socialista), Valter Pomar (Articulação de Esquerda) e Luiz Gonzaga da Silva, que lançou candidatura independente. A fala de Genoino engrossou o coro dos demais candidatos à presidência do partido, que há algum tempo já reclamam do afastamento do PT de suas bandeiras históricas. Para Valter Pomar, "quem anda com cachorro pega pulga". Mas se há consenso entre os candidatos à presidência sobre a necessidade de reavaliar a base aliada, o mesmo não ocorre quando o assunto é a CPI dos Correios. A resolução aprovada no sábado orienta os parlamentares do PT a não endossarem a convocação da CPI, mas a recomendação de retirada das assinaturas foi cortada. Apesar disso, Genoino disse que irá tentar convencer os parlamentares de que a CPI é um instrumento da oposição para desgastar politicamente o governo: "Estamos conversando com cada um (dos que assinaram a convocação) e vamos mostrar que eles estão fazendo o jogo da oposição". Raul Pont defende a CPI como forma de deixar claro que as pessoas acusadas não são do PT e que não há nada a esconder: "Somos um governo de coalizão e as denúncias contra Henrique Meirelles (presidente do Banco Central), Romero Jucá (ministro da Previdência Social) e PTB devem ser apuradas". Questionado sobre o fato de o partido punir o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) com a suspensão de um ano por ter lançado candidatura própria à presidência da Câmara e, ao mesmo tempo, apoiar o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), ao não recomendar a assinatura do requerimento da CPI, Genoino disse que a afirmação é "uma infâmia e que o PT não está defendendo esse ou aquele parlamentar da base aliada". "A suspensão de um ano preserva o Virgílio e a unidade de ação no partido", esclareceu. Sobre a CPI, disse o governo Lula "é rigoroso na investigação, na apuração e já tomou todas as medidas necessárias". Genoino rebateu ainda as críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que acusou o PT de ser um governo sem rumo como um "peru bêbado". Para o presidente do PT, FHC é quem está perdendo a cabeça. "Os tucanos estão tão nervosos, preocupados e apressados que estão virando vivandeiras de crise. Não cabe a um ex-presidente da República usar expressão desse tipo", cutucou. E completou: "Os tucanos não sabem ficar fora do poder e nem fazer oposição".