Título: Indicação política afeta comando da Petrobras
Autor: Cláudia Schüffner e Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2005, Política, p. A7

Por conta da promessa de um cargo na diretoria da Petrobras para o PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), o comando da maior empresa estatal do hemisfério Sul pode passar por uma profunda rearrumação que nada tem a ver com seu desempenho técnico, ao contrário. A mexida deve envolver pelo menos a cobiçada diretoria de Exploração e Produção (E&P) da empresa, a presidência da BR Distribuidora, líder do mercado de distribuição de combustível e, provavelmente, a diretoria da área de Gás da Petrobras. Analistas do mercado avaliam que a mudança por razões estritamente políticas terá enorme repercussão sobre os investidores, especialmente os estrangeiros, o que será um bom pretexto para movimentos de venda de ações da estatal. Esses analistas avaliam também que, apesar dos prejuízos iniciais, a chamada "ditadura dos gerentes" (expressão que define a força do segundo escalão na estrutura da empresa) vai prevalecer e, independente do tamanho da mexida no comando, muito pouco vai mudar na estatal a médio e longo prazo. O noticiário sobre a exigência da diretoria de Exploração e Produção (E&P) - "que fura poço e acha petróleo" , em frase atribuída a Severino em conversa com a ministra Dilma Rousseff - pode ter inviabilizado a entrega do cargo a Djalma Rodrigues, indicado pelo presidente da Câmara. Mesmo assim, a operação não deve impedir que a diretoria, responsável por investimentos de US$ 32,1 bilhões até 2010 (60% do Plano Estratégico da empresa), sendo US$ 5 bilhões somente neste ano, tenha seu comando modificado para acomodar os interesses da base aliada do governo. O mais provável é que o atual presidente da BR Distribuidora, Rodolfo Landim, tido como eminentemente técnico, seja removido para a diretoria de E&P da holding, deixando o comando da BR para o indicado de Severino. Guilherme Estrella, atual diretor de E&P, nome de primeira hora do governo petista, seria mesmo sacrificado. Tido como xiita e defensor da tese de que a preservação do nível de reservas deve se sobrepor à ânsia de atingir a auto-suficiência, Estrella tem também contra si o fato de que na sua gestão a Petrobras teve, no ano passado, pela primeira vez desde 1992, crescimento negativo (3%) da produção de petróleo. Não está descartada também uma troca na diretoria de Gás da estatal, ocupada por Ildo Sauer, embora ela não esteja entre os cargos que interessam ao PP. O grande problema do governo é enfrentar a reação do corpo técnico da empresa à ascensão do pernambucano Djalma Rodrigues (ex-presidente da Gaspetro, hoje na diretoria da Petroquisa) ao primeiro escalão, ainda que não seja para a cobiçada diretoria de E&P. Ambicioso, Rodrigues não esconde dos colegas que sua maior aspiração é chegar à diretoria da empresa. Embora seja um funcionário conhecido da corporação, que o vê como encarregado das negociações da Petrobras com políticos do Nordeste, a oposição ao nome de Rodrigues uniu praticamente toda a empresa, dos mais nacionalistas aos considerados liberais. Também se opõem à indicação a ministra Dilma Rousseff, o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, e o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante.