Título: Lula convoca Bastos e determina apuração rigorosa de denúncias
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2005, Política, p. A8

Numa tentativa de reforçar o pedido de retirada das assinaturas da CPI dos Correios dos líderes às bancadas aliadas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para um despacho de emergência às 7h de ontem na Base Aérea de Brasília, antes de embarcar para a Coréia e o Japão. "O presidente me reiterou que nós vamos fazer uma investigação sem olhar para os partidos, sem olhar para os ministérios e sem olhar para quem quer que seja". disse Thomaz Bastos, que estava em férias, ao fim da reunião com Lula. Segundo Thomaz Bastos, Lula reiterou que "é preciso fazer uma apuração rigorosa, ampla, que nem proteja nem persiga ninguém, uma apuração impessoal". O ministro destacou o trabalho do procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, "que não deixou parado nenhum inquérito policial nesses dois anos, deu andamento a todos, aqueles que favoreciam e aqueles que iam contra o governo", e que por isso mesmo já estaria sendo chamado de "desengavetador-geral da República". O discurso do presidente e de Thomaz Bastos é, na essência, o que os líderes dos partidos aliados têm feito às bancadas. "Não há necessidade de CPI, porque o governo está usando os instrumentos próprios do Executivo. Do ponto de vista da eficácia da investigação, a CPI não conseguirá acrescentar dados", resume o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). "A CPI é palco para a oposição", argumenta o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política), nas conversas com os deputados. O ministro Antonio Palocci (Fazenda advertiu o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para o risco de uma crise política afetar a economia. Todos os ministros políticos de Lula entraram na operação para evitar a criação da CPI. Alguns deles, como José Dirceu (Casa Civil) Eunício Oliveira (Comunicações), Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) ficaram em Brasília, embora devessem integrar a comitiva de Lula à Coréia e ao Japão. O centro da operação é a retirada de assinaturas, o que pode ser feito até às 24h de quarta-feira, mas o governo trabalha com outras alternativas. Até a hipótese de uma renúncia coletiva dos ministros, para permitir a Lula recompor a maioria a partir de uma ampla reforma ministerial, já foi discutida no Planalto. "É difícil", admite Chinaglia, ao ser confrontado com o fato de que o governo precisa retirar mais de 50 assinaturas, para impedir a CPI, muito embora o discurso de que investigação é eleitoral, pode afetar a economia e não acrescentaria muita coisa ao trabalho da Polícia Federal esteja encontrando alguma receptividade entre aliados. O problema é que o PT mais uma vez saiu do script: a expectativa do governo era de que, em vez de uma simples recomendação, o Diretório Nacional da sigla proibisse a bancada de assinar o requerimento da CPI. Em processo de eleição interna, o campo majoritário do partido não teve como arrancar essa decisão, o que poderia facilitar o trabalho dos líderes aliados. Taticamente, a oposição decidiu não incluir no pedido de CPI a investigação de nova denúncia contra o presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), segundo a qual teria exigido do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) uma mesada de R$ 400 mil para o partido. É para evitar que o governo questione o fato de a CPI não ter "fato determinado". Para o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), "não faremos a CPI da Corrupção e nem queremos o 'Fora-Lula' como o PT queria o 'Fora FHC'. Pelo contrário, queremos que ele fique até o último dia, inclusive para não corrermos o risco de um segundo mandato. Não queremos criar um mártir". O governo conta também com o feriado para ganhar tempo, pois imagina que pode faltar quorum na quarta-feira para a leitura do requerimento de CPI. Instalada a comissão, tentará controlá-la. Não é difícil, mas precisará se recompor politicamente. Na semana passada, além da discussão da renúncia coletiva, foi aventada a possibilidade de o ministro José Dirceu voltar ao Congresso. Isso ocorreria na hipótese de O Supremo Tribunal Federal (STF) determinar a instalação da CPI dos Bingos. A votação está em 4 a 0 pelo pedido da oposição. Nesse caso, segundo admitiu em conversas recentes. Dirceu voltaria para se defender no Congresso e tirar o Planalto da mira da investigação sobre seu ex-assessor Waldomiro Diniz e o bicheiro Carlos Cachoeira.