Título: Acordos com Egito e Marrocos não atraem indústria
Autor: Raquel Landim e Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2005, Especial, p. A12
A indústria brasileira está demonstrando pouco interesse nas negociações do Mercosul com Egito e com Marrocos. É pequeno o número de entidades empresariais que enviou ao governo suas demandas de abertura desses mercados. O agronegócio vê oportunidades nos acordos, mas quer saber se o objetivo do governo será político ou comercial. Para iniciar as negociações, o Itamaraty solicitou aos empresários que listassem os produtos que gostariam que Egito e Marrocos reduzissem as taxas de importação. Segundo a Coalizão Empresarial Brasileira (CEB), a adesão foi pequena. Para o Egito, os pedidos de abertura recolhidos pela entidade somaram 1,7 mil produtos, ou 20% dos 9 mil itens do universo tarifário brasileiro. As solicitações para a abertura do mercado do Marrocos ainda não foram entregues ao governo, mas uma primeira sondagem aponta menos de mil produtos. Nas negociações com a UE, a lista de pedidos supera 8 mil itens. Apesar do desinteresse da indústria, o governo paraguaio, atual presidente temporário do Mercosul, traça um cenário otimista. A intenção é fechar os acordos até o fim do ano e anunciar os acertos em dezembro na reunião de cúpula do Mercosul. Segundo o diretor-geral de comércio exterior da chancelaria paraguaia, Raúl Silvero Silvagni, os acordos são de preferência tarifária fixa e deverão incluir descontos nas tarifas de importação para cerca de 450 produtos de cada lado. "Só vamos pôr os produtos que não sejam sensíveis para nenhum dos países", diz. Há relativo consenso sobre a inclusão de bens de capital e algodão. O Marrocos quer colocar no acordo minério de fosfato. O Mercosul vê como prioridade uma queda nas tarifas de automóveis. Fiat e Volkswagen começaram a exportar para o Marrocos, e a General Motors olha para o Egito. Soraya Saavedra Rosar, coordenadora da unidade de negociações internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), admite que a indústria tem pouco interesse nos dois acordos porque são mercados desconhecidos. Mas ela ressalva que terceiros mercados não substituem os tradicionais. A indústria têxtil brasileira pediu ao governo que tentasse abrir o mercado do Marrocos para o índigo. A solicitação representa cinco posições tarifárias de um universo de 978 do setor. "Somos a favor de acordos com terceiros países, mas não podemos perder de vista os Estados Unidos e a União Européia", diz o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel. "Os recursos são escassos. Temos que focar no que dá retorno". O interesse da indústria nacional nos acordos com Egito e Marrocos está concentrado em eletroeletrônicos, máquinas e equipamentos e produtos químicos. O setor eletroeletrônico apresentou pedidos de abertura para cerca de 444 itens, 39% do seu universo tarifário. "As exigências de qualidade e preço desses mercados são adequadas para produto brasileiro", diz Humberto Barbato, diretor de relações internacionais da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). O setor agrícola também já mapeou seus interesses. Levantamento do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) aponta oportunidades de aumento das vendas de carne bovina, frango e açúcar. O Marrocos importa 1% da carne bovina e de frango que consome. Já o Egito importa 20% da carne bovina e 1% do frango. "O setor agrícola tem interesse na negociação, mas esses produtos precisam ser incluídos", diz André Nassar, diretor-executivo do Icone. De acordo com Silvagni, a base da negociação serão os acordos firmados recentemente com Índia e África do Sul, nos quais foram incluídos, respectivamente, apenas 1,9 mil e 450 linhas tarifárias.