Título: Japão acerta empréstimo de US$ 1,2 bi à Petrobras
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2005, Empresas &, p. B9

Aproveitando a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Japão, a Petrobras firmará contratos de financiamento, no total de US$ 1,2 bilhão, com o Japan Bank for International Cooperation (JBIC), o Eximbank japonês. O montante ainda poderá crescer, dependendo de negociações que serão feitas durante a visita de três dias do presidente e sua comitiva àquele país. A estatal brasileira de petróleo assinará, na sexta-feira, três memorandos de entendimento no Japão. Um deles será firmado com o JBIC, a Nippon Export Import (Nex), as tradings Mitsui e Itochu e o banco Sumitomo Mitsui Corporation (SMBC). O Nex é o organismo que faz seguro de risco político em financiamentos concedidos por entidades do governo japonês a outros países. Por sua natureza, ele alavanca financiamentos maiores e a custos mais baixos. "Esse memorando representa um pacote de financiamento de até US$ 900 milhões para a modernização da Refinaria do Vale do Paraíba (Revap)", informou ao Valor Pedro Augusto Bonésio, gerente financeiro da Petrobras. Um outro memorando será assinado entre a Petrobras, o Nex e o SMBC, prevendo financiamento corporativo de US$ 300 milhões. O dinheiro será usado em vários projetos. "Existe a possibilidade de aplicarmos os recursos em projetos relacionados à segurança operacional", revelou Bonésio. O terceiro memorando é genérico e destinado a criar condições para o estreitamento ainda maior das relações entre a estatal brasileira e o JBIC, que se tornou, nos últimos anos, um dos maiores financiadores da Petrobras. O memorando é o arcabouço legal que criará as condições para que outros financiamentos sejam acertados no futuro, envolvendo a participação de companhias japonesas em negócios com a estatal brasileira. "É o estabelecimento de um relacionamento que dará conforto para os dois lados negociarem no futuro oportunidades de financiamento. Podemos oferecer oportunidades de negócios a empresas japonesas que queiram se associar à Petrobras e ao mesmo tempo gostaríamos que tivéssemos o suporte financeiro que eles podem prover. Temos oportunidades de recursos e eles têm os recursos", comentou Bonésio, acrescentando que os empréstimos do JBIC tem custos mais atraentes que os oferecidos no mercado internacional. Forte investidor no Brasil nos anos 70, o Japão se afastou do país após a crise da dívida externa dos anos 80. Como, mesmo no período da moratória da dívida brasileira, sempre honrou seus contratos comerciais, a Petrobras nunca perdeu os laços com os japoneses. Nos últimos anos, a estabilização da economia brasileira e a normalização das relações do país com a comunidade financeira internacional fizeram o Japão retomar o interesse pelo Brasil. O relacionamento com a JBIC se intensificou a partir de 1999, três anos após uma visita oficial do presidente Fernando Henrique Cardoso àquele país. Apenas em 2000, o JBIC concedeu US$ 4,5 bilhões em empréstimos à Petrobras. O objetivo dos japoneses é estratégico. "Eles vêem a Petrobras como uma parceira bastante importante, até porque colocamos no mercado um recurso natural que é muito relevante para eles. Na medida em que colocamos mais petróleo no mercado, isto significa que vamos demandar menos petróleo e, por conseguinte, o abastecimento para eles fica mais tranqüilo", explicou Bonésio, lembrando que o Japão importa praticamente todo o petróleo que consome. Curiosamente, o Brasil não exporta petróleo para o Japão. Lá, as refinarias processam o chamado óleo leve, produzido no Oriente Médio. Nos últimos anos, a Petrobras vem tentando convencer os japoneses - mas não só eles - a comprar óleo pesado, o que expandiria o mercado para o óleo brasileiro na Ásia. "A China é um grande comprador e em Cingapura temos um escritório de venda", contou Bonésio. Um dos objetivos econômicos da visita de Lula ao Japão será avançar nas negociações para que o país compre etanol produzido no Brasil. Novamente, a Petrobras, mesmo não produzindo álcool, entrará no negócio de forma estratégica. "A Petrobras é uma empresa de energia. Vamos tentar viabilizar a exportação brasileira. Pela logística que ela domina, a empresa será um parceiro imprescindível para qualquer um que pense em importar álcool", observou o gerente financeiro da Petrobras.