Título: Avança exportação de gado para abate
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2005, Agronegócios, p. B14

Com destino ao Líbano, um navio "boiadeiro" deixará o porto de Rio Grande (RS) até o fim desta semana carregando 10 mil animais. Muito mais que um número grandioso, a operação representa o avanço de um tipo de negociação ainda pouco explorada na pecuária brasileira: a exportação de gado bovino em pé para abate. Em 2004, o Brasil exportou 15,5 mil animais - entre reprodutores e para abate -, e este ano os embarques de bois destinados ao abate estão mais acelerados. Só para o Líbano, foram 9 mil cabeças em março passado e outras 10 mil estão prestes a ser embarcadas. "É um negócio vantajoso para o produtor porque significa uma nova janela de comercialização e menor dependência dos frigoríficos", afirma Antônio Carlos Gonçalves, da Angus International Comercial Importadora e Exportadora Ltda, empresa que reúne 15 corretores de gado, responsável pela operação de venda ao Líbano. A Angus é subsidiária da jordaniana Hijazi & Ghosheh Group , que tem confinamento de gado e frigoríficos no Oriente Médio. No Brasil, a Angus faz a compra do gado bovino que será embarcado. Conforme Gonçalves, os animais são comprados de criadores gaúchos, que recebem pagamento à vista. Os bois ficam confinados, até a data da viagem, em Pelotas (RS). Com pouca oferta interna de gado bovino, o Líbano adquire animais para abate, principalmente, na Austrália, Argentina e Uruguai. Foi exatamente quando a Hijazi & Ghosheh Group visitava o Uruguai, ano passado, que corretores e produtores gaúchos procuraram a empresa para oferecer o gado bovino brasileiro, conta Gonçalves. Agora, criadores de outros Estados, como Paraná, Goiás e Tocantins também mostram interesse em exportar seus animais. "Produtores de Goiás também querem exportar, mas é preciso acertar questões de logísticas, por que porto será feito o embarque, por exemplo", observa Antenor Nogueira, presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Segundo Nogueira, que vê a exportação como opção para "vender melhor" o gado, além do Líbano, Tailândia, Israel e Filipinas também querem comprar bois do Brasil para engorda e abate. "São países que têm produção de grãos, mas não têm rebanho bovino". Além da questão da oferta, países muçulmanos também importam animais vivos para abate por motivos religiosos, observa Odilson Ribeiro, chefe da divisão de cooperação técnica e acordos internacionais do Ministério da Agricultura. Eles importam os animais vivos para que estes sejam submetidos ao abate halal, que segue os preceitos muçulmanos. Uma das determinações, por exemplo, é que os animais estejam virados para Meca. Há outro componente econômico, lembra Guilherme Rocha Soares, da Brazilian Cattle Genetics, consórcio de empresas de genética animal: a importação de animais vivos gera emprego nos países importadores. Segundo Antônio Carlos Gonçalves, da Angus, os animais exportados ao mercado libanês são bezerros ou bois magros - com mais de 160 quilos - destinados ao confinamento e posterior abate. "Os importadores exigem animais inteiros [não-castrados] porque ganham mais musculatura do que gordura durante o confinamento", explica Gonçalves. Durante a viagem ao Líbano, que dura cerca de 20 dias, os animais são alimentados com uma ração especial e ficam em mangueiras com capacidade para 20 a 25 animais cada. Pelo quilo do animal vivo exportado ao Líbano, os produtores gaúchos receberam R$ 1,56 à vista, segundo Gonçalves. No mercado interno, a cotação está entre R$ 1,40 e R$ 1,45, o que comprova a tese de Antenor Nogueira de "alternativa para vender melhor". A exportação de animais reprodutores também está em crescimento. De acordo com a Brazilian Cattle Genetics, Angola, Venezuela e Senegal são os maiores clientes do Brasil hoje. Em 2004, o Brasil exportou 5.202 animais reprodutores ante 1.526 em 2003. No primeiro bimestre, as vendas externas já somaram 1.252 cabeças.