Título: Os bancos reforçam as provisões para crédito
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2005, Finanças, p. C1

Os dois maiores bancos privados de varejo - Bradesco e Itaú - voltaram a reforçar as provisões para devedores duvidosos no início deste ano. A estratégia contrariou a expectativa do mercado. Afinal, no último trimestre de 2004, os bancos reduziram as despesas com provisões o que ajudou a impulsionar os lucros; e, neste início do ano, Banco do Brasil (BB) e Unibanco mantiveram a política. No Itaú, o reforço levou as provisões excedentes, isto é, acima do mínimo exigido pela legislação, a um volume equivalente ao lucro de um trimestre. No Bradesco, o excedente é igual a 77,8% do lucro; no Banco do Brasil, a 84%: e no Unibanco, a 85,5%, O administrador de investimentos Luís Spínola afirmou que os bancos sempre utilizaram o "lucro excedente para formar gordura para uma fase ruim e apresentar certa estabilidade de lucro. Bancos internacionais, especialmente os suíços e ingleses, usam essa tática". Segundo Spínola, se o acionista de banco não gosta de volatilidade nos resultados, o depositante muito menos. "Ação de banco é um reloginho. Se apresentar volatilidade, afasta o investidor e até o depositante", disse. O analista do ING, Pedro Guimarães, lembrou que, ao reforçar as provisões, os bancos reduzem o pagamento de dividendos. O reforço é considerado despesa que diminui o resultado da intermediação financeira e, na linha final, o lucro líquido, base para o cálculo do dividendo. Mas, o imposto a pagar não é alterado porque a Receita Federal só admite o abatimento das provisões quando o crédito é efetivamente perdido. A diferença entre as provisões pedidas pelo Banco Central (BC) e as aceitas pela Receita cria, porém, crédito tributário. O Itaú está com R$ 1,15 bilhão em provisões excedentes, valor praticamente igual ao R$ 1,14 bilhão de lucro do primeiro trimestre. O Itaú aumentou em 131,08% para R$ 755,4 milhões as despesas com provisões para créditos no primeiro trimestre em comparação com igual período de 2004. Com isso, o saldo de provisões para devedores duvidosos do banco atingiu R$ 3,288 bilhões. O Banco Itaú explicou o aumento das provisões "para fazer frente a uma eventual deterioração do cenário", disse o diretor de relações com investidores, Alfredo Setubal, a analistas. Silvio de Carvalho, diretor de controladoria, reforçou que a providência foi necessária porque o banco voltou o foco para "mercados mais arriscados", referindo-se ao financiamento ao consumo e à pessoa física. O Itaú prevê o crescimento de 20% a 25% do crédito neste ano, puxado pelo aumento de 30% das operações com pessoas físicas. A inadimplência na carteira do Itaú é de 3,2% - considerando as operações classificadas de AA a C, na escala de nove degraus do Banco Central. Mas pode chegar a 3,5% de acordo com informações de abril, informou o vice-presidente Henri Penchas. O Bradesco fez um aumento mais suave das despesas com provisões para crédito, de 13,2%, para R$ 635 milhões no primeiro trimestre, levando o saldo a R$ 4,301 bilhões, R$ 938 milhões acima do necessário, folga não muito distante do R$ 1,205 bilhão de lucro que o banco teve no período. O diretor vice-presidente do Bradesco, José Luiz Acar Pedro, afirmou que o crescimento da economia, do emprego e da renda reduziu a inadimplência. Da carteira de crédito do banco, 92,5% são classificados entre AA e C, as melhores avaliações na escala de nove degraus do Banco Central, que vai até H. As provisões são equivalente a 6,5% da carteira de crédito, o maior índice dos quatro bancos. Mas, as provisões foram reforçadas, disse, porque o banco ampliou o crédito pessoal e para veículos. "Estamos crescendo mais na pessoa física, onde pode haver mais inadimplência. As provisões excedentes são um conforto", afirmou o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano. Em conversa com analistas, disse que o banco desenvolver instrumentos que o deixaram "preparado para conceder crédito". Mas ressalvou que "nossos indicadores não têm mostrado nada com que se preocupar". A qualidade da carteira medida pelas operações de E a H frente ao total está em 3,3% desde dezembro e era de 4,1% em março de 2004. O Bradesco espera ampliar em 20% a 25% o crédito neste ano, sendo que a carteira de pessoa física deve crescer de 25% a 31%. Mesmo os bancos que reduziram as despesas com provisões para crédito ainda estão com excedentes respeitáveis. No Banco do Brasil as despesas com provisões diminuíram 7,21% para R$ 1,261 bilhão no primeiro trimestre em comparação com igual período de 2004 e o saldo ficou em R$ 5,655 bilhões, com um excedente de R$ 812 milhões. Já no Unibanco, as despesas com provisões ficaram praticamente estáveis em R$ 310 milhões, levando o saldo a R$ 1,685 bilhão, com excedente de R$ 343 milhões. Os analistas lembraram que o banco havia reforçado as provisões em 2004 com parte do ganho da venda da Credicard. O vice-presidente de finanças do Unibanco, Geraldo Travaglia, afirmou que o banco "tem tecnologia de ponta" no crédito de varejo. "Temos confiança no modelo", afirmou lembrando que foi o primeiro dos grandes de varejo a investir na baixa renda, com a compra da Fininvest, em 1998, e já teve seu aprendizado. O Unibanco prevê aumentar o crédito de 15% a 20% neste ano; e de 22% a 27% só a carteira de pessoa física.