Título: FGV detecta ânimo menor para investir na indústria
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2005, Brasil, p. A4

A indústria de transformação brasileira reduziu o ânimo para investir, ainda que em proporção menor do que se poderia esperar diante do quadro de aperto monetário da economia do país. É a conclusão da primeira versão semestral do quesito sobre intenções de investimentos da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, divulgado ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em relação ao levantamento feito em outubro do ano passado, a proporção de empresas que manifestaram intenção de aumentar os investimentos em 2005 caiu de 63% para 60% do total. Já os que pretendem reduzir investimentos neste ano passaram de 9% para 11% do total. Para o economista Aloísio Campelo, coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas, "o movimento foi sutil", considerando as mudanças na economia, especialmente na política monetária. A taxa de juros básica (Selic) vem crescendo ininterruptamente desde setembro do ano passado, passando de 16% para os atuais 19,75%. "Nós achamos que os resultados ficariam piores. Aparentemente, as indústrias ainda acham que em 2006 a economia brasileira vai continuar crescendo", disse Campelo. Da última vez que a FGV havia pesquisado intenções de investimentos, em outubro do ano passado, quando ainda era esperado que a escalada dos juros seria interrompida até o final do ano, o percentual das empresas que pretendiam ampliar os investimentos em 2005 saltou de 39% (na pesquisa feita em outubro de 2003, referente a intenções de investir em 2004) para 63%. Campelo considera que agora em abril a alteração não foi tão substancial. "Não é um cenário de estagnação, mas de desaceleração", disse o economista Samuel Pessôa, também da Fundação Getúlio Vargas. Foram ouvidas 685 empresas, as mesmas das pesquisas anteriores, de 21 ramos de atividades. Entre as grandes categorias de uso, os números revelaram que a maior queda nas intenções de aumentar os investimentos em 2005 foi na indústria de bens de capital. O percentual caiu de 65% para 56% em seis meses. Entre os bens de consumo, a queda na intenção de investir passou de 69% para 62%, e entre os bens intermediários, de 71% para 70%. Os indicadores de produção física industrial calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, de janeiro a março deste ano, os bens de consumo duráveis (13%) e os semiduráveis e não-duráveis (5,4%) vêm liderando o crescimento da produção industrial. A indústria de bens de capital cresceu apenas 2,5% no período. O quadro de desaceleração na indústria de máquinas e equipamentos, segundo a avaliação de Pessôa, poderia estar sendo impactado pela valorização cambial, pela rota das exportações. Mas o economista alerta que, embora nociva para a indústria doméstica, a alta do real em relação ao dólar pode não ter efeito negativo nos investimentos gerais do país em máquinas e equipamentos. É que a desvalorização da moeda americana torna mais barata a produção externa, favorecendo a compra de equipamentos importados. Entre os gêneros, os que mais avançaram na intenção de aumentar investimentos foram o químico, o de material de transporte, o de produtos farmacêuticos e o de vestuário e calçados. Na ponta do recuo, os destaques foram metalurgia, material elétrico e de comunicação, mecânica, têxtil e de produtos alimentícios. Para Pessôa, os dados gerais não permitem avaliar se o câmbio está afetando positiva ou negativamente as intenções de investir das indústrias. A sondagem conjuntural da Fundação Getúlio Vargas constatou ainda que, de abril do ano passado para abril deste ano, cresceu de 41% para 52% a parcela das empresas que disseram ser o aumento da capacidade produtiva o principal objetivo dos seus investimentos. Foi o maior resultado para essa opção de resposta desde a pesquisa feita em 1998. Segundo os técnicos da FGV, o dado revela que, mesmo havendo um ajuste de patamar, a expectativa é que a economia siga crescendo. A carga tributária (46%) e as incertezas quanto à demanda (33%) foram considerados os dois fatores que mais limitam os investimentos.