Título: Operação anti-CPI impõe recuo governista no CNJ
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2005, Política, p. A5

Num raro exemplo de atuação conjunta, o governo desencadeou ontem uma mega-operação para evitar a CPI dos Correios. No final do dia, o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política), por telefone, fez um balanço otimista ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a possibilidade de entre 70 e 80 deputados retirarem as assinaturas do requerimento que cria a Comissão Parlamentar de Inquérito. A mega-operação governista, comandada por Aldo e José Dirceu (Casa Civil), teve lances dramáticos, como um almoço para convencer o PTB a desistir de romper com o governo, e outros destinados a desanuviar o clima com a oposição, como a aprovação do nome do jurista Alexandre Moraes para o Conselho Nacional de Justiça. A prova dos nove será hoje, em sessão do Congresso convocada para a leitura do requerimento. Mobilizado desde a véspera, o Planalto se assustou com a notícia de que o PTB convocara reunião para discutir a devolução dos cargos e o rompimento com o governo. Aldo e Dirceu almoçaram ontem no apartamento do presidente do PTB, Roberto Jefferson. "Eles (a oposição) não querem pegar você, querem pegar o governo", disse Aldo a Jefferson. Dirceu reforçou, dizendo que pensava exatamente o mesmo. "O Ciro (Gomes, ministro da Integração Nacional) também". Jefferson desabafou com Dirceu, em tom desaforado. Reclamou que o PT em nenhum momento fora "solidário" com ele. Pelo contrário, o presidente da sigla, José Genoino (SP), teria dado declarações que pareciam reforçar as acusações contra ele. Dirceu pediu paciência a Jefferson. Depois do almoço, o petebista atravessou a rua e foi para a reunião da Executiva do partido, que se prolongou por três horas. Ao final, o deputado assumiu o tom do governo. "Se o Marinho (Maurício, diretor dos Correios que acusou Jefferson de chefiar um esquema de corrupção na estatal) assumiu à Polícia Federal que fez aquilo de moto próprio, não precisamos mais romper com o governo e vamos retirar todas as assinaturas. Eu não sou o alvo do PSDB e do PFL. O alvo deles é o PT. CPI do PTB não tem graça, não tem sal. A CPI que pega o PT, com 18 estatais, essa teria ibope. O PTB é escada. O objetivo é o Lula, é a sucessão", disse Jefferson. Em nota, o partido assumiu o discurso do Planalto: "Muito mais que a figura do nosso presidente e da agremiação, a motivação, abraçada por oportunistas de plantão, objetiva única e exclusivamente a desestabilização política do país". O PTB - conclui a nota - "recusa-se, ativa e veementemente, a servir de instrumento a interesses que fogem à ortodoxia política". O recuo na decisão de rejeitar o nome de Alexandre Moraes para o CNJ foi decidido em reuniões no Planalto e no Senado. Teve a concordância do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que comandara a rejeição na semana passada e estava preocupado com a repercussão no Judiciário de São Paulo, onde é pré-candidato ao governo. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a pretexto de "desanuviar a tensão política", resolveu colaborar e encontrar o caminho regimental para anular a sessão que reprovara o nome de Moraes. "Se o governo não tiver uma agenda - que não seja do governo, do partido -, uma agenda que seja do Brasil, vai continuar a ser pautado, vai permanentemente ficar encostado nas cordas, discutindo estas coisas comezinhas", disse Renan. "As perguntas não podem ficar no ar. É importante investigá-las para que a sociedade tenha a resposta que quer ouvir, mas não podemos, para cada denúncia, fazer uma investigação política. A estratégia governista foi acertada numa reunião dos ministros na noite de segunda-feira, no Planalto. A conclusão foi de que o governo atuava dispersivamente, cada um defendendo seus interesses: Dirceu estava preocupado com o PT, Eunício Oliveira (Comunicações) com o PMDB e Roberto Jefferson com o PTB, quando o problema era de todos. Ciro Gomes (Integração Nacional) aliou-se a Aldo na defesa desse ponto de vista. Estabelecido um consenso, os ministros dividiram tarefas. Eles e os líderes passaram a atuar por bancadas nos Estados, onde deputados só admitiam retirar assinaturas se seus adversários locais fizessem o mesmo. Para hoje, a estratégia prevê, entre outras coisas, a análise de um projeto no Congresso, o que elevaria o quorum da sessão para metade mais um dos integrantes do Congresso. O governo conta com a falta de quorum, se não conseguir a retirada das assinaturas, para deixar a discussão para a próxima semana. Com a operação de ontem, o Planalto espera tirar assinaturas até no PFL e a maior parte das do PMDB. "Cabe ao Congresso fazer avaliação sobre a abertura da CPI, mas nós, ministros que somos parlamentares, estamos mostrando que as providências cabíveis já foram tomadas pelo governo", disse Eunício Oliveira.