Título: Tombini vai para o BC com ajuda de Armínio
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2005, Política, p. A6
Com a ajuda do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o governo aprovou no Senado a indicação de Alexandre Tombini para a diretoria de Estudos Especiais da instituição. Na sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Tombini apontou os riscos de mudar as metas de inflação e se comprometeu a estudar uma possível queda mais lenta dos índices de preços. Até um dia antes, sua indicação estava ameaçada pelo conflito político causado pela rejeição de Alexandre Moraes - apoiado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin - para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ontem a questão foi superada, e Tombini foi aprovado de manhã na CAE, por 24 votos a 1, e no plenário do Senado, por 49 a 8. Armínio intercedeu em favor de Tombini, que foi por ele nomeado chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do BC. "Fiz uma ligação a um senador, em caráter pessoal, e encontrei o entendimento claríssimo de quem era o Tombini", disse Armínio. O assessor parlamentar do BC, Luiz do Couto Neto, discutiu com Armínio sobre as dificuldades criadas pelo clima político. Pesou favoravelmente também o fato de o indicado ser um funcionário de carreira do BC, sem passagem pelo mercado financeiro. Oposição e governo votaram pela aprovação, mas pareciam ter trocado os papéis. Líderes de oposição foram os que mais fizeram declarações de apoio à política econômica, e os principais questionamentos partiram do PT. O líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), defendeu a elevação na meta de inflação, para permitir uma redução mais lenta dos índices de preços para os objetivos de médio e longo prazos. "A inflação continuaria a cair ", ressaltou. Tombini ofereceu-se para estudar uma convergência mais lenta da inflação. "O sistema sempre pode ser aperfeiçoado." Mas ponderou que a mudança de meta teria efeito negativo. "Uma variável chave para a queda da inflação é a própria meta. Uma vez que a meta é ajustada, também se ajusta a expectativa de inflação (dos agentes econômicos). O custo de política monetária poderia ser tão alto quanto o atual." A defesa da meta coube à oposição. "Seria preocupante se elevássemos as metas", disse o líder do PDT no Senado, Jefferson Péres (AM). "Sou da oposição, mas não faço demagogia com juros." Na mesma linha foi o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM). "A meta de 4,5% para 2006 é compatível com um crescimento de 3,5% ", disse. "Crescimentos maiores são incompatíveis com a baixa Formação Bruta de Capital Fixo do país, algo que transcende os limites desse governo e do anterior", disse, referindo-se aos baixos investimentos. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) perguntou se juros mais baixos não alavancariam investimentos. Tombini disse que um reflexo do controle da inflação é o aumento da renda, algo fundamental para o crescimento sustentado e o investimento. Tombini mostrou-se otimista sobre a convergência da inflação para as metas e disse que o BC não deve prescindir de instrumentos como compulsórios e requerimentos de capital para os bancos. Ele ponderou, porém, que o nível de compulsório no Brasil é alto, e que a função primeira dos requerimentos de capital é de regulação prudencial do sistema financeiro. "O BC deve focar em instrumentos mais tradicionais." Ele acrescentou que iniciativas para aumentar a oferta agregada aliviam a política de juros. "Mas o BC tem pouca interferência nas políticas de oferta." Indicou ainda satisfação com a política fiscal. "Muitos BCs no mundo gostariam de ter a política fiscal que temos no Brasil." Tombini reconheceu que as altas taxas de juros internos contribuem para a apreciação do real. "O diferencial de juros ajustado pelo risco Brasil realmente atrai capital", disse. Mas ele ressaltou que uma desvalorização artificial do real não seria solução para a questão - e poderia agravá-lo, ao tornar mais baratos ativos brasileiros convertidos em dólar.